Numa tertúlia de gente que gosta de política, ouvi, recentemente, um testemunho dos tempos quentes que se viveram em Portugal em 1974 e em 1975 a garantir que, na época, os orçamentos para as operações no nosso país dos serviços secretos das duas principais potências mundiais superavam o nosso Orçamento de Estado e “ajudaram”, subterraneamente, a nossa própria Economia. 

Talvez seja um exagero (ou talvez não), mas prova como o dinheiro pode ser como a água mais pura, que é inodora e incolor, características que o tornam capaz de vestir mil máscaras e de se assumir como motor de desenvolvimento e de prosperidade para vastos setores da população, independentemente da origem desse mesmo dinheiro e do processo que gerou a respetiva acumulação. 

Nesta globalização da Economia e não só – na globalização do próprio pensamento político – tudo está ou pode estar tão entrelaçado que se torna difícil identificar se o dinheiro que o Banco Central Europeu disponibilizou, em condições muito favoráveis, à banca comercial europeia (portuguesa incluída) voltou para o BCE em investimentos de dívida pública ou está a financiar as Economias, como pretendem Merkel e Sarkozy. 

Num período em que a situação que o país atravessa é de emergência, há aspetos que continuam a ser entraves ao crescimento das empresas e, consequentemente, da Economia. 

Constantemente, as empresas deparam-se com grandes dificuldades, nomeadamente em conseguir financiamento, fator que tem sido um agente condicionante e impeditivo ao seu desenvolvimento. 

Um dos grandes desafios que hoje se colocam é então o de encontrar soluções para conseguir inverter esta situação, diversificando fontes de financiamento, especialmente para as pequenas e médias empresas. 

É urgente que o nosso Governo desenvolva a sua ação em várias frentes, quer no quadro europeu, quer no quadro interno, para conseguir promover o financiamento, através de mecanismos de capitalização, que impeçam a paralisação definitiva da nossa economia. 

Nesta Páscoa, um pouco por todo o lado, e pelas mais variadas vozes, desde a do Senhor Primeiro Ministro, passando por governadores de bancos e por outros detentores de lugares políticos, muita gente tem vindo a dar algumas esperanças de que a Economia e as empresas vão poder aceder, com mais facilidade, a dinheiros que lhes garantam liquidez e condições para se dinamizarem. 

Este financiamento é realmente vital para contrariar a contração do crédito e a falta de liquidez da Economia e para enfrentar o espetro de recessão sem ser de forma passiva. Venha ele (financiamento) de onde vier. Já não será dos serviços secretos das superpotências, como terá acontecido no PREC, até pelo simples fato de uma dessas superpotências já não existir, mas a verdade, nua e crua, é que o dinheiro disponível já passou por tantas mãos, que dificilmente conseguiremos identificar algum como a água.

Luís Lima

Presidente da APEMIP

(luis.lima@apemip.pt)

Publicado no dia 09 de abril de 2012 no Jornal i

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