O que foi mais difícil na minha mais recente deslocação ao Brasil, a presidir a uma delegação portuguesa que participou, em Brasília, no III Encontro Brasileiro de Corretores de Imóveis (ENBRACI) e na terceira reunião da Confederação do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa (CIMLOP) e que manteve, em S. Paulo,  encontros com a poderosa associação empresarial da construção que é o SECOVI, o que foi mais difícil neste périplo, foi desmontar a falsa ideia de um imobiliário português em saldos.

O imobiliário português não vive um momento de tão boas expectativas como é aquele que se vive no Brasil, momento tão forte que até foi o tema do próprio ENBRACI, mas oferece boas oportunidades a quem nele quiser investir, sem que esteja em saldo como alguns pretenderão fazer crer, na linha das desvalorizações artificiais, tão ao gosto dos especuladores.

Os efeitos nefastos de uma prática comercial especulativa como aquela que desembocou na crise do sub-prime, crise que Portugal também está a sofrer, mas exclusivamente pela via da crise financeira e das dificuldades de acesso ao crédito, foram, aliás, reconhecidos em Brasília por Ron Phipps, presidente da norte-americana NAR, muito preocupado com a falta de confiança que se instalou no mercado imobiliário dos EUA, na sequência de uma desvalorização artificial dos bens imóveis face a uma anterior especulação igualmente artificial.

Esta triste realidade (que felizmente não se verifica em Portugal, pese embora algumas vozes tradicionalmente agoirentas) é bem visível em mercados como o de Espanha, onde ainda recentemente, durante o Salão Imobiliário de Madrid, via-se oferta imobiliária que se apresentava com uma imagem de marketing própria das épocas de saldos de sapatos e de roupa fora de estação.

Para que não se pense que estou a exagerar, refiro, expressamente, que alguns painéis publicitários de oferta de imóveis expostos no madrileno SIMA 2011 apresentavam, graficamente, uma sucessão de descontos cuja leitura é a que associamos às euforias dos saldos – já não é 10%, já não é 20%, já não é 30%, nem 40%, agora o desconto é de 50%. Nunca visto. Nunca visto, mas de efeitos perversos até mesmo a mais de sete mil quilómetros de distância.

De facto, em Brasília, alguns potenciais investidores imobiliários queriam confirmar junto dos profissionais portugueses com quem se cruzavam se o imobiliário estava agora, em Portugal, ao preço da chuva. Desmentir e desmontar esta falsa ideia é que é difícil. É que o imobiliário português é, realmente, uma boa oportunidade de negócio, mas não por estar em saldo. É-o, por ser um imobiliário de qualidade cujo mercado já erradicou, há muito, alguma especulação que existiu no passado, e que se oferece com perspectivas reais, nomeadamente, mas não só, na área da Reabilitação Urbana.

Estou esperançado de ter deixado no Brasil esta ideia positiva do nosso mercado imobiliário.

Luís Lima
Presidente da APEMIP
luis.lima@apemip.pt
 

Publicado no dia 15 de Junho de 2011 no Público

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