O nosso sector não está na origem dos problemas que afligem o país e pode ser uma solução para podermos retomar o crescimento. Há muito que a procura no nosso sector é determinante. Há muito que acabou o tempo em que a oferta ditava o mercado, oferecendo-se de forma quase irrecusável a uma procura que tinha acesso ao crédito e que estava a descobrir o que realmente procurava em matéria de habitação.

Há uma mudança de paradigma no sector. Reabilitamos e arrendamos mais do que construímos e vendemos, por ser esta a solução mais sustentável e também a mais fiável para que o sector continue a ser um dos pilares da Economia e um refúgio para o investimento e para a poupança. 

O comboio da reabilitação dos centros urbanos, necessariamente impulsionado por um mercado de arrendamento urbano que, infelizmente não está ainda a responder como desejaríamos, pode ainda cativar poupanças e investimentos. Claro que o mercado do arrendamento urbano tem outra dinâmica em regiões específicas bem identificadas, onde, por exemplo, o mercado do turismo residencial de qualidade, tenha pernas para andar, mas esta certeza não deve desmobilizar a nossa atenção para problemas existentes no sector, em especial em algumas periferias de grandes áreas urbanas.

Alguma oferta imobiliária em localizações satélites de centros urbanos que atraíam populações pode estar (e está mesmo) a merecer menor atenção da procura num fenómeno que não é exclusivamente justificado pelas dificuldades de acesso ao crédito, embora esta questão também conte e muito. Se pudéssemos transformar os imóveis em móveis, e transportá-los das localizações menos procuradas para as mais procuradas, muitos destes problemas não se colocavam. Mas isso é impossível, não podemos colocar rodinhas ou patins nos imóveis que têm menos procura.

Podemos e devemos equacionar estas questões, cuja complexidade e importância exige o empenho do Estado (leia-se Governo), num debate descomplexado que poderia ter sido, entre nós, desencadeado na passada sexta-feira, dia 31 de Outubro de 2014, primeiro Dia Mundial das Cidades, data instituída pela Assembleia Geral das Nações Unidas em Dezembro do ano passado.

Aplaudo, por isso, uma declaração a propósito desse dia, que a União das Cidades Capitais Ibero-Americanas (U.C.C.I) emitiu em Madrid lembrando que “a cidade, a polis, criadora da democracia é hoje, mais do que nunca, uma verdadeira escola de diálogo, de consenso e de convivência” e que deve ser preservada “através da legitimidade democrática que é atribuída aos dirigentes dos grandes núcleos urbanos do mundo” perspectivando-se num quadro “de um desenvolvimento mundial, harmonioso, sustentável e solidário. 

Como lembrou a U.C.C.I, o que importa, neste segundo decénio do que denominámos «Século das Cidades», é gerir a transformação das nossas cidades com e para os habitantes, e liderar os processos que nos conduzam ao objectivo de oferecer a oportunidade de viver melhor e com mais justiça. 

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 05 de Novembro de 2014 no Público

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