O Limbo, esse lugar que se imagina fora dos limites do Céu, um lugar de anunciada felicidade natural mas sem a visão beatífica de Deus, na doutrina da Igreja Católica Apostólica Romana, que é a minha e é dominante em Portugal, não é o destino desejado nem de crianças nem de almas justas.

No Limbo que a nossa matriz cristã foi criando, viverão as crianças não-baptizadas e viverão as almas justas que passaram na Terra antes da chegada de Jesus Cristo, umas e outras impedidas de limpar, pela purificação baptismal, o pecado original com o qual nenhuma alma poderá entrar no Paraíso.

Para a Igreja, a condenação ao limbo seria a mais branda de todas, apesar da Congregação para a Doutrina da Fé, a pedido do actual Papa Bento XVI, ter considerado, em 2007, que o Limbo infantil, ou seja, o limbo destinado às crianças não baptizadas, poderá não passar de uma hipótese e jamais deverá ser considerado dogma.

Também as recentes propostas governamentais, para dinamizar o mercado de arrendamento urbano e a reabilitação dos centros das cidades, correm o risco de entrarem para uma espécie de limbo, neste caso politico e económico, onde apesar de serem justas e necessárias existirão sem qualquer efeito prático.

A agilização dos processos de despejo, por incumprimento doloso dos contratos de arrendamento urbano, e, a adopção de novas regras para a fiscalidade sobre os rendimentos obtidos no mercado de arrendamento urbano, são medidas que todos consideram transparentes e necessárias mas que, apesar de já propostas, podem morrer no limbo das boas intenções.

O mercado imobiliário português, reconhecidamente maduro e até com características tais, que fazem dele refúgio para muitos investimentos assustados com a volatilidade de outras aplicações,  precisa, para poder responder às exigências da Economia, desse dinamismo prometido e anunciado com as alterações propostas na reabilitação e arrendamento urbanos.

A recuperação da confiança nestes mercados por parte de investidores e proprietários não pode voltar a ser congelada, como num passado ainda recente, quando o património imobiliário português não gerava retorno suficiente para se manter sem se degradar, quanto mais para gerar riqueza necessária a fazer do sector um dos que ainda pode alavancar a nossa Economia.

É absolutamente necessário que as medidas de incentivo à reabilitação urbana e à dinamização do mercado de arrendamento deixem o limbo e cheguem ao céu. Para que, aquí na terra, o mercado não seja um inferno.

Luís Lima
Presidente da APEMIP

Publicado dia 6 de abril de 2011 no Público Imobiliário

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