Mesmo para quem, como eu, não pode ser considerado um grande adepto do Futebol, ouvir José Mourinho receber o prémio de melhor treinador do Mundo em 2010, é uma enorme emoção, potenciada pelo facto do homenageado ter feito questão de o agradecer na nossa língua mãe.

Outro significativo pormenor foi o facto de Mourinho ter cumprimentado jogadores do Inter e do Real Madrid, que se encontravam na sala perto dele, logo que foi anunciado o vencedor, ao estilo da entrega dos Óscares da Academia de Hollywood, e antes de se dirigir ao palco para receber o prémio.

Depois foi o que milhões e milhões de pessoas viram pela televisão, em todo o Mundo – um orgulhoso português a agradecer em Português, um título cobiçadíssimo e a partilhar esse momento de glória com os jogadores e com os colaboradores com quem trabalhou, sem esquecer a mensagem do muito trabalho necessário para chegar onde chegou.

O agradecimento de José Mourinho durou pouco mais de 30 segundos, mas foi suficiente para projectar o orgulho português, tantas vezes ferido e tantas vezes injustamente amachucado por quem não quer reconhecer que muitos de nós são capazes de se afirmarem pela positiva ao mais alto nível.

No mesmo dia em que a televisão nos trouxe a alegria da vitória de José Mourinho na alta roda do futebol mundial, a RTP1, no seu programa 30 minutos, dava voz a um professor de uma jovem portuguesa, Marina Pacheco, que estuda Belo Canto no estrangeiro, com elogios muito raros de se ouvir.

“Marina” – disse o professor – tem uma grande vantagem por ser portuguesa”. Para este coreógrafo de renome mundial, Vincent Van Del Elshout, “é muito fácil trabalhar com cantores portugueses”. Ele reconhece que não sabe bem porquê, mas acrescenta, elogiosamente, que eles são já actores e possuem uma alma especial.

Cito de cor esta referência claramente elogiosa, a uma jovem portuguesa que se afirma na não menos difícil (do que o futebol) competição do Belo Canto, à procura de um lugar numa ópera que possa passar na Scala de Milão, na Metropolitana de Nova Iortque ou na Casa da Ópera de Sydney.

Os exemplos da nossa determinação estão à vista e são reconhecidos em áreas tão diversas e difíceis como as referidas. Por isso é legítimo esperar que noutros domínios, nomeadamente no relançamento da nossa economia, estejamos igualmente à altura dos desafios que se colocam. E o mínimo que se pede, é que não sejamos nós a desmerecer da nossa própria alma.

Luís Carvalho Lima
Presidente da APEMIP

Publicado dia 21 de Janeiro de 2010 no Sol

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