É surpreendente a capacidade que nós, portugueses, temos de esquecer o passado, mesmo que este seja muito recente.

António Variações cantava “esta insatisfação, não consigo compreender” e de facto, é incompreensível que não estejamos nunca satisfeitos com a nossa realidade, mesmo quando apresenta melhorias em relação ao dia de ontem.

Estive recentemente na Grécia, um dos países que alinhavam ao lado de Portugal nos “PIGS”, sigla usada para identificar os quatros países da zona euro (Portugal, Itália, Grécia e Espanha) com um elevado desequilíbrio das contas públicas e elevadas taxas de desemprego. E, apesar das melhorias que se registaram desde este “batismo”, a verdade é que, ao ver com os meus olhos a realidade grega, em que a pobreza e o ambiente ainda são hostis, não pude deixar de me sentir orgulhoso pela forma como Portugal, com todas as dificuldades e incertezas que ainda atravessa, conseguiu dar de certa forma a “volta”, com a preciosa ajuda do Turismo e da sua “união de facto” com o Imobiliário.

Mas a “turistificação” de Portugal parece não agradar a ninguém, ou pelo menos é essa a imagem que se transmite, nomeadamente quando a nossa imprensa passa frequentemente um reflexo agressivo dos malefícios que o Turismo e o Imobiliário estão a trazer aos portugueses, ignorando completamente que, na balança, os benefícios são muito superiores a quaisquer constrangimentos que possam existir.

Neste momento, em que o Turismo é um dos principais responsáveis pelo nosso desenvolvimento económico e em que o Imobiliário tem desempenhado um papel importantíssimo na criação de emprego, fazendo mexer múltiplas atividades, a montante e a jusante do sector, insiste-se na ideia de que o Alojamento Local está no centro dos problemas habitacionais existentes, quando por outro lado, esteve no centro da recuperação das cidades, e das suas dinâmicas económicas.

Recordo um passado bem recente, em que, por exemplo, a Reabilitação Urbana era apontada como um desígnio nacional, que acabou por se concretizar, levada a cabo maioritariamente por privados, que investiram nos centros das cidades, até então devolutos e sem condições, para promover uma aposta num segmento que se apresentava com grande potencial de valorização.

Devido ao impacto que o Alojamento Local teve em duas ou três freguesias da Capital, e uma ou duas da Invicta, discutem-se agora propostas de lei que irão matar este mercado, ignorando completamente os benefícios que está a trazer a outras cidades do País, através do investimento que capta e do emprego que gera. 

Não nos podemos dar ao luxo de voltar a pôr tudo em causa por um mercado que está a funcionar impecavelmente e que tem lavado a cara deste nosso Portugal. O impacto negativo que eventuais mexidas na legislação do Alojamento Local terão no mercado, será muito maior do que aquilo que se possa prever. É muita ingenuidade pensar que ao travar o Alojamento Local se criará mais e melhores soluções habitacionais para os portugueses. Isso não acontecerá. As consequências serão mais desastrosas do que benéficas.

Não podemos continuar a viver neste paradoxo, em que estamos insatisfeitos com o que é negativo e com o que é positivo. Quando surgem oportunidades, temos que saber aproveitá-las em vez de as ameaçarmos.

 

Luis Lima

Presidente da APEMIP

Publicado no dia 11 de abril no Jornal Público

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