Há métodos curativos que podem ser tão agressivos que o doente não morre da doença, mas morre da cura. Numa espécie de sangria que deixa o doente exangue. Qualquer remédio tem uma dose fatal: em certa quantidade cura, mas em quantidades exageradas mata.
Num contexto de crise e face à necessidade de diminuir o peso das dívidas, a redução das despesas cede, muitas vezes, à tentação de obter resultados pela via de cortes radicais em investimentos, nomeadamente em investimentos que parecem não gerar retornos imediatos.
É um erro que pode ser muito grave e que começa a desenhar-se em alguns sectores, nomeadamente no sector da Construção e do Imobiliário, onde projectos como os da reabilitação dos centros urbanos correm o risco de esmorecer apesar de serem considerados indispensáveis à própria recuperação.
Apostar na reabilitação dos centros urbanos, num país onde cerca de 20% do património imobiliário carece de obras profundas de remodelação, é uma necessidade imperiosa pois garante a manutenção da riqueza construída e, o que é ainda mais importante, um dos comboios em que podemos embarcar.
É que a reabilitação dos centros urbanos também gera emprego directo fundamental, num cenário de desemprego de longa duração, emprego que recupera postos de trabalho tanto mais urgentes quanto, muitos deles, absorvem mão-de-obra menos qualificada, a mais difícil de recuperar emprego.
Uma perspectiva serena a acarinhar, para que os remédios que nos oferecem não contribuam para a nossa morte.
Luís Carvalho Lima
Presidente da APEMIP
Publicado dia 4 de Maio de 2011 no Diário Económico