A mais do que sacrificada classe média, a quem se pede, exige e alicia, nos momentos de crescimento económico, que assuma a despesa da procura interna e seja o centro desse mesmo crescimento, tantas vezes no limite das respectivas taxas de esforço, esta mesma classe média é a primeira a ser sacrificada na hora de todos os acertos de contas pelos exageros que, em boa verdade, ela foi forçada a cometer.

Em Portugal, os aumentos de impostos e outros sacrifícios incidem quase sempre em primeiro lugar e com maior violência relativa sobre esta mesma classe média que tem razões para se sentir traída quando depois de ser seduzida para soluções de vida, a que dificilmente poderia resistir, vê a vida a andar para trás por ordem dos que, antes, a incentivavam a andar para a frente.

Às facilidades extremas na concessão de crédito nos anos da explosão imobiliária sucedeu um rigor implacável e cego perante inevitáveis dificuldades dos devedores, num contexto de aperto inesperado (que, em alguns casos, inclui quebra de rendimentos jamais admitida) e agora uma voracidade fiscal também insensível às condições extraordinárias que atingem os portugueses.

Um dos bens materiais mais preciosos para os portugueses – a casa onde habitam, a casa do agregado familiar – é penhorada com demasiada facilidade, em primeira linha pelas instituições bancárias mas também pelo próprio fisco, uns e outros com todo o direito a executar tais penhoras mas ambos, em muitos casos, sem atender às condições concretas do momento nem às consequências de tal tendência.

Mas pior do que retirar, tantas vezes sem uma tentativa de renegociação exequível das dívidas, esse bem quase sagrado para os portugueses é a recolocação desses imóveis no mercado por preços muito inferiores aos preços de mercado, o que provoca a desvalorização generalizada do nosso património imobiliário como se o nosso imobiliário insuflado uma bolha que realmente não existe.

Como ainda há dias referi, poderá parecer eficaz para a solução imediata de créditos vencidos (seja à banca, seja ao Estado) colocar no mercado bens imobiliários apresados a um preço muito inferior ao que eles valem, garantindo assim as transações que se desejam rápidas. O problema destas opções são os juros ocultos que a médio prazo atingirão todos, banca e Estado – os juros da desvalorização artificial do nosso património.

O suposto sucesso dos leilões de casas que enchem algumas manchetes de jornais e algumas aberturas de telejornais escondem um reverso que até poderá por em causa a própria estratégia de crescimento do país, indispensável para que possamos superar a crise financeira que estamos a suportar enquanto país da periferia da Europa.

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 04 de maio de 2012 no Jornal Sol

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