Durante a crise económica que se viveu em Portugal e que muito afetou o sector imobiliário, o mercado obrigou a uma adaptação dos profissionais do sector à mudança de paradigma que a situação exigia.

Do mercado de compra e venda, migrámos para uma aposta crescente no arrendamento, e da construção nova para o mercado de reabilitação urbana.

Depois da retoma do sector imobiliário a que temos assistido desde 2013 e que podemos finalmente confirmar, o paradigma está de novo a inverter-se no que diz respeito ao aumento da procura pelo mercado de compra e venda, em detrimento do mercado de arrendamento (muito devido à ausência da sua dinamização, derivada da elevada fiscalidade aplicada sobre o património).

No entanto, começa a ser necessário que o paradigma se volte a inverter no que à construção nova diz respeito.

A reabilitação dos centros das cidades, começou a ser feita com o esforço das famílias e das empresas que investiram neste sector, pensando também no investimento para a colocação de ativos no arrendamento urbano e no alojamento local.

Esta dinâmica ajudou a cativar investimento estrangeiro, numa lógica de longo prazo, que determinou a regeneração do próprio espaço público, tornando-o mais atrativo à Reabilitação Urbana, e consolidou o sector imobiliário como um dos motores da nossa recuperação.

A aposta na Reabilitação Urbana continua a ser uma prioridade, é certo, mas já não chega. E, neste aspeto, o papel das entidades bancárias é fundamental.

Sabemos que atualmente, a o sector financeiro em Portugal atravessa um período complicado, com dois dos seus principais bancos numa situação de incerteza face ao futuro, que tem reflexos na ausência de financiamento ao investimento, nomeadamente ao sector da construção, que neste momento reúne já as condições necessárias para voltar a ser incentivado, uma vez que se começam a esgotar os ativos imobiliários, sobretudo no centro das cidades, fazendo com que os preços praticados estejam a ultrapassar o que seria desejável. 

Por isso, é urgente que haja uma resposta do sector da construção. 

É preciso construção nova, porque já há procura para tal e porque irá promover uma estabilização de preços que será benéfica para todos: para as construtoras, que regressam ao ativo depois de um longo período de estagnação; para as famílias, que encontrarão no mercado ativos à medida das suas possibilidades; para as imobiliárias, que terão mais produto para comercializar e suprir as necessidades da procura; para a banca, que garantirá dividendos quer por via do financiamento ao investimento, quer por via do crédito à habitação; e para o próprio mercado imobiliário, que necessita de aliviar os preços que estão a ser praticados. Só desta forma, poderemos evitar eventuais bolhas especulativas e permitir que o crescimento do mercado seja sustentável, e sem loucuras que possam comprometer o bom momento que o sector hoje vive.

Temos que aprender com o passado, e felizmente, tivemos uma segunda oportunidade, contra as previsões de muitos que diziam que existia uma bolha imobiliária. Essa bolha não existiu, como sempre afirmei, muitas vezes numa tarefa quase solitária, mas não significa que não venha a criar-se, não pela desvalorização dos preços mas pela sua especulação.

Por isso, é necessário que tenhamos as devidas cautelas. Tivemos uma segunda oportunidade, mas poderemos não ter uma terceira.

 

Luis Lima
Presidente da APEMIP
luislima@apemip.pt

Publicado no dia 18 de Janeiro de 2017 no Público

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