É fácil, e às vezes até muito conveniente para muita gente, associar a palavra intermediário à palavra imobiliário e, por arrasto, às empresas do setor imobiliário. Na verdade, as empresas imobiliárias ainda aguentam com essa má fama, apesar de estarem (salvo eventuais, raras e desonrosas excepções) completamente inocentes no que respeita às especulações em preços de imóveis pretendidos por investidores estrangeiros.
A indignidade que reside na súbita inflação do preço de alguns imóveis para valores que chegam a duplicar aqueles que são os justos e que já foram praticados, para alegadamente aproveitar o desconhecimento de alguns clientes estrangeiros, é inequivocamente condenável, mas como se verá, se os processos instaurados ou a instaurar esclarecerem toda a verdade, não parte das empresas imobiliárias, cujas comissões são, em regra, adequadas e pequenas.
Na verdade, não são os que legalmente e com obrigações muito concretas e muito monitorizadas estão no mercado a aproximar a oferta da procura quem tenta “enganar” a procura na ilusão de que isso poderia ser possível. Isto não só não é possível como até é contraproducente, para não utilizar outra palavra, pois – vou mais longe – uma ganância tão grosseira acaba sempre por inviabilizar um mercado que é bom para quem o procura e para quem o oferece desde que seja transparente.
Estou certo que qualquer investigação minimamente exaustiva, tão ao gosto do bom jornalismo de investigação, ilibará claramente as empresas imobiliárias sobre as quais, injustamente e pela utilização de palavras fortemente ambíguas, pode recair o labéu de actuações profissionais indignas na sua grande maioria assumidas por pessoas que não são profissionais deste ofício, eventualmente profissionais de outros ofícios que se fazem passar ilegalmente por profissionais do setor imobiliário.
As práticas agora denunciadas são, a confirmarem-se, como em alguns casos parece evidente, situações de usura que todos quantos estão no mercado imobiliário português não podem tolerar pela desonestidade que traduz e também pelos efeitos negativos profundos que tais práticas podem gerar na nossa imagem de empresários – mais do que em qualquer outro setor a alma deste negócio é a transparência e não o segredo, especialmente se o segredo esconder o que não deve ser escondido.
O sector imobiliário português é um refúgio seguro para quem nele queira investir, nomeadamente na Reabilitação Urbana, mas também no novo e em muitos produtos com vocação para o turismo. É-o também por ter resistido á tentação das especulações de preços que redundaram, noutras latitudes, em bolhas imobiliárias. Esta realidade não pode ser posta em causa por actuações pouco ou nada escrupulosas.
Mas também não é justo que a culpa seja sumariamente atribuída aos que têm vindo, neste difícil mercado, a pugnar por um equilíbrio de preços no encontro entre a oferta e a procura, quando a culpa, em muitas situações, está nos outsiders, muitos deles médios e grandes oportunistas que se infiltram no mercado sem se submeter às regras de transparência que este, como qualquer outro mercado, tem de ostentar para poder funcionar a bem da Economia.
Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com
Publicado no dia 27 de junho de 2014 no SOL