Um grupo de vendedores do Mercado de Portimão, na sua maioria mulheres que já passaram pelos bancos da escola há alguns anos, estão a aprender inglês, em aulas promovidas pela Junta de Freguesia, pelo Instituto do Emprego e pela Câmara Municipal – “é  que, nestes tempos em que o turismo é o motor da economia da região algarvia, até para vender couves e batatas é preciso saber uma segunda língua”, como escreve Ana Sofia Varela num texto sobre esta novidade publicado no jornal “Barlavento online”.

Hoje já ninguém deveria admirar-se que vendedores de produtos hortícolas tenham de aprender uma segunda língua, como poucos já estranharão a existência de jornais online, isto é, jornais que se lêem na Internet, ou ver alguém que subitamente começa a falar muito alto, num local público, estando aparentemente sozinho. Na verdade já quase todos sabemos que quem assim se comporta está, em regra, a falar com alguém por um telemóvel.

Nestas áreas do contacto directo com os estrangeiros que nos visitam ou da familiaridade com as modernas tecnologias da comunicação parece ser fácil detectar as mudanças que se verificaram na nossa sociedade.

Muito mais fácil do que no sector imobiliário, onde ocorreram, nos últimos anos, mudanças tão profundas quanto as que comecei por referir neste texto, mudanças que, no entanto, pouco são tidas em conta quando se analisa o próprio sector.

Hoje em Portugal, constrói-se e vende-se menos imóveis do que há 15 ou 20 anos, mas algumas análises que são tornadas públicas sobre a situação do sector referem esse facto como consequência directa da chamada crise e como algo de muito preocupante. Ora preocupante seria continuar a construir eternamente, a ritmos cada vez maiores, como se a população portuguesa devesse mudar de casa ano sim, ano não, numa prosperidade que acabaria por cimentar todo o território.

Na verdade, o mercado imobiliário português está a passar do ciclo da quantidade para o ciclo da qualidade e todos aqueles que estão neste vasto sector precisam, independentemente de resolver algumas questões relacionadas com a crise financeira internacional, de encontrar novos paradigmas de actuação para os respectivos negócios, em muitas áreas do negócio imobiliário, que depende – todos sabemos – do público, ou seja da procura. É precisamente isto que vamos debater no próximo dia 21, em Lagoa, no seminário da rentrée da APEMIP, este ano marcada para a FATACIL e sob o tema dos novos paradigmas e da internacionalização do imobiliário português.

Estes são de facto os principais problemas de um sector que, em Portugal, não sofreu os efeitos das especulações que geraram as bolhas que rebentaram pela Europa e pela América e que por isso não tem as quebras de preços que alguns apregoam… Tem outros problemas mas, para os resolver, é preciso ter a sabedoria dos vendedores do Mercado de Portimão.
 

Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP

Publicado dia 7 de Agosto de 2009 no Diário de Notícias

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