O Banco Central Europeu (BCE) abre, pela segunda vez em menos de três meses, os cordões à bolsa e volta a emprestar milhares de milhões à banca, a juros muito favoráveis. Está pois na hora da banca corresponder a esta confiança que a Europa revela ter no sistema financeiro europeu, com um claro apoio à Economia.
Os generosos apoios à banca foram necessários para que ela própria se recompusesse da fraqueza em que caiu quando andou na órbita de certos produtos tóxicos, mas a boa saúde está a regressar ao sistema financeiro e este, para se manter em forma e não sofrer uma recaída, deve voltar-se para a Economia, num apoio vital a todos.
Com esta nova injecção de dinheiro para pagar em três anos a um juro de 1%, a banca não pode investir exclusivamente na dívida dos países que pagam a 5 e a 6%, num circuito quase fechado, tendo em conta que o dinheiro disponibilizado pelo BCE aos bancos europeus é dinheiro da Europa, que faz falta às economias europeias.
As dinamizações urgentes das economias europeias não podem marcar passo nem mesmo sob a capa de algumas engenharias financeiras, teoricamente justas, segundo as quais a pressão exercida pelo sistema financeiro sobre os Estados visará “obrigá-los” a aceitar reformas estruturais, ditas indispensáveis para meter a Europa do Sul (leia-se quem gastou mais do que tinha) na ordem.
As questões que têm dinheiro no centro são sempre questões muito delicadas e exigem o máximo de transparência possível. Nomeadamente quando algumas opções político financeiras, mesmo quando assumidas para evitar males maiores, são difíceis de justificar e de entender, até para iniciados quanto mais para o comum dos cidadãos.
Tem havido, como os números confirmam, muito mais dinheiro para a banca do que para os Estados. Nos últimos anos a proporção é de um para quatro, ou seja, 20% para os Estados, com grande parte da fatia a ir para a Economia, e 80% para a banca, com uma pequena parcela desta generosa fatia a ser posta, posteriormente, à disposição da Economia, empresas e famílias.
A banca continua e terá de continuar a ser o coração do sistema, mas para que esta normalidade reapareça e ganhe consistência é importante olhar para a Economia, em especial para sectores fundamentais como é o da Construção e do Imobiliário, sector que, devidamente equacionado será decisivo para travar o aumento do desemprego e para relançar o próprio crescimento e desenvolvimento da Economia.
O crescimento das Economias não se fará, no quadro das Economias de Mercado em que vivemos, sem este sector e muito menos contra este sector. Seria começar tudo de novo, com a incerteza das experiências mais ou menos aventureiras, num retrocesso de décadas e de consequências negativas incalculáveis. Os Estados e as populações não podem arriscar uma tal roleta.
Luís Lima
Presidente da APEMIP
luis.lima@apemip.pt
Publicado no dia 07 de março de 2012 no Público