Hoje, muitos dos meus amigos, particularmente entre os que são mais velhos do que eu e têm filhos em idade adulta, falam do Skype e de outras maravilhas que vivem e circulam na Internet com uma familiaridade cibernáutica que se julgaria impossível, pelo menos de forma tão generalizada, em pessoas dessa geração.

O Skype é uma ferramenta de comunicação avançada – som e imagem -, gratuita entre utilizadores de internet, quando ligados em simultâneo, e barata mesmo quando utilizada para telemóveis ou telefones fixos em ligações internacionais, incluindo ligações intercontinentais. Ainda ontem um amigo meu, pai de um filho que está a doutorar-se no estrangeiro, dizia-me, feliz, que tinha estado a falar com o filho não sei quantos muitos minutos.

Na verdade, estas facilidades nas tecnologias de comunicação mascaram a saudade que as gerações portuguesas mais velhas sentem quando veem partir os filhos para o estrangeiro, em busca de melhores qualificações académicas ou de saídas profissionais que, entre nós, não conseguem descobrir e agarrar.

Alguns desses meus amigos, não todos é certo mas muitos deles, nem têm dificuldades financeiras de maior, mesmo considerando a incerteza que as épocas de crise sempre lançam sobre todas as pessoas. Mas tinham idealizado viver, nas últimas fases da vida, próximo dos filhos, revendo-se no sucesso que eles eventualmente conseguissem e alimentando-se dos afectos que deles sempre iriam receber.

Agora o sucesso que os jovens legitimamente procuram é, em regra, mais fácil em alguns países estrangeiros, em muitos casos países muito distantes, e a saudade mata-se, quase sempre e só, por uma conversa mais rápida ou mais demorada pelo Skype, uma ferramenta que entrou, definitivamente, no coração de muitos pais e de muitas mães portugueses.

Outro fenómeno que por vezes se associa a estas realidades sociológicas é o da dificuldade que as gerações mais velhas têm, mesmo aquelas que estudaram, no domínio das línguas estrangeiras, em particular do Inglês. Os que estudaram fizeram-no numa época onde o Francês era a segunda língua por excelência em Portugal e onde poucos pensariam que o Inglês se tornaria tão universal.

Se os meus amigos mais abastados e livres que viram os filhos partir para o estrangeiro, dominassem melhor o Inglês, talvez se aventurassem a visitar os filhos que partiram mais vezes, ou talvez até admitissem viver longas temporadas nos locais para onde os filhos emigraram, em especial aqueles que estão já numa situação em que podem fazer do tempo o que queiram sem grandes preocupações, ou seja, num estádio elevado de riqueza.

À falta de melhor, resta o consolo do Skype que, no entanto, não apaga a mágoa de ver o país desperdiçar a sua maior riqueza, isto é, os seus filhos, neste estado exangue que vivemos e que afeta tudo e todos, até os mercados. Queiramos ou não, este é que devia ser um dos nossos mais importantes temas de agenda.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 06 de Novembro de 2013 no Público

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