Um estudo do Banco de Portugal que há dias mereceu destaque na Imprensa confirmou, com o rigor de um estudo académico, uma verdade que venho dizendo há muito e que descobri pelo conhecimento do próprio mercado – que os preços da habitação em Portugal tem estado, nos últimos anos, controlados ao contrário do que aconteceu em Espanha onde o valor das casas teve comportamentos muito irregulares com subidas artificiais e com descidas também artificiais, sintomas clássicos de bolha.

É curioso referir que no período entre 1985 e 1998, a subida dos preços das habitações em Portugal cifrou-se na média anual de 1%, enquanto que em Espanha o aumento foi de 5% ao ano. No período seguinte do estudo – entre 1999 e 2006 – o aumento dos preços em Portugal foi nulo, mas em Espanha rondou os 10% ao ano. Finalmente no último período, de 2007 a 2013, nos anos da crise, a queda de preços em Portugal foi de 1% ao ano e no caso espanhol de 6%.

Por outras palavras, quem investiu no imobiliário em Portugal não conseguiu lucros elevados de um momento para o outro mas também não viu o valor cair de forma abrupta e artificial. É por isso que o imobiliário português é um mercado que oferece segurança aos investidores e se afirma de forma sustentada. 

Um dos fatores mais significativos de qualquer mercado – o da confiança – foi, nos anos que antecederam a crise, maior em Espanha do que em Portugal. Isto refletiu-se num aumento do número de licenças de construção em Espanha, muito acentuada entre 2000 e 2006, ao contrário do que acontecia em Portugal onde o ritmo de construções novas começou a abrandar a partir dos anos 90 do século passado. O que à data talvez tenha sido problemática para o sector foi, seguramente, uma vantagem para atravessar a crise com menos problemas.

Nos dois países da Península Ibérica, as economias abriram-se ao mercado imobiliário com facilidades de crédito à habitação e nos dois países as populações viveram bons momentos no que toca a rendimentos disponíveis e puderam beneficiar de taxas de juro reduzidas mas em Portugal – conclui o estudo – não houve “períodos de exuberância” o que contrasta com a Espanha onde a bolha imobiliária acabou por ser inevitável.

Lembro-me muito bem do Salão Imobiliário de Madrid de 2011, daquele que já tinha sido o maior salão imobiliário do Mundo mas que, nesse ano, transmitia uma imagem do imobiliário mais próxima da imagem de um mercado cujos produtos pudessem entrar em épocas de saldos, quais sapatos ou roupa fora de estação, do que de um verdadeiro mercado imobiliário.

Havia inclusivamente stands que exibiam painéis publicitários de oferta de imóveis a mostrar, graficamente, uma sucessão de descontos cuja leitura é a que associamos às euforias dos saldos – já não é 10%, já não é 20%, já não é 30%, nem 40%, agora o desconto é de 50%. Nunca antes visto, nunca visto num salão imobiliário de referência.

O imobiliário português, pelo contrário, nunca esteve em saldo e enfrentou, como poucos e com sucesso, os perigos das bolhas imobiliárias. É isso que faz dele um mercado com futuro, seguro para investir. É isso que faz dele um dos pilares da recuperação económica. É isso que faz com que o imobiliário português possa continuar a dar esperança a quem nele acredite.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 17 de Dezembro de 2014 no Público

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