A fila para a obtenção de um visto de residência em Portugal, por parte de grandes investidores imobiliários estrangeiros de fora da União Europeia, não será muito longa mas há indicadores que apontam para que este sector se assuma mais como um sector alternativo do investimento e que Portugal volte a ser um dos destinos de eleição desses capitais à procura de refúgios seguros.

A ajuda externa – da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu e do Fundo Monetário Internacional – a que Portugal se submeteu fez com que o nosso país tivesse uma visibilidade internacional muito mais evidente do que antes, embora por motivos claramente pouco atractivos.

Mas às notícias sobre a nossa elevada dívida soberana, sobre o elevado deficit das nossas contas públicas, sobre a nossa crescente taxa de desemprego, particularmente grave entre os mais jovens e sobre a acentuada queda da procura interna, juntaram-se também as notícias sobre a nossa capacidade em cumprir os compromissos assumidos, mesmo difíceis, e a surpreendente revelação da inexistência de uma bolha imobiliária em Portugal.

Num cenário destes, com as pressões tão ilegítimas quanto oportunistas que tentavam e tentam forçar uma quebra de preços, alguns investidores órfãos e outros assustados com o tecto cipriota dos cem mil euros como limite para a segurança dos depósitos bancários, começam a olhar com olhos de ver para o nosso mercado imobiliário, privilegiando, como é natural, as melhores e mais bem localizadas ofertas.

Estas – registe-se – nunca deixaram de ter procura pelos investidores que nunca perderam a lucidez na apreciação das ofertas de qualidade do nosso imobiliário, mesmo quando, por razões de obvia oportunidade temporal, podiam retardar o momento do investimento aguardando alguma, tão possível quanto desejada, quebra de preços.

Mas tal como as árvores não crescem até ao céu, os preços dos bons produtos também não caem até às profundezas do inferno dos mercados e são, como nunca deixaram de ser, aquilo que na linguagem fria do capital se denomina de “activos refúgio”, mesmo e principalmente em geografias como a nossa, que atravessam momentos mais difíceis.

São precisamente nestas geografias e nestes momentos que se fazem grandes negócios, quase sempre a contento de todas as partes, mesmo daquelas que cederam mais do que pensavam, fazendo-o em último recurso e para evitar males maiores o que, na frieza da realidade, acaba por ser, também para estes, uma solução aceitável.

O que mais parece atrair os investidores estrangeiros interessados no nosso imobiliário é a oferta não residencial mais bem localizada, preferencialmente com bons contratos, o que significa arrendamentos por valores rentáveis e inquilinos com bom histórico no segmento dos escritórios do comércio e da indústria.

Em boa verdade, aqueles investidores que sabem olhar e descobrir verdadeiras oportunidades para o investimento também começam a reparar no património residencial que ainda se oferece nos centros históricos das grandes cidades e que, inevitavelmente, terá de ser reabilitado. Nada que eu não tenha defendido tão convictamente quanto insistentemente.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 27 de maio de 2013 no Jornal i

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