Christopher Smart, responsável do Departamento do Tesouro americano para os assuntos europeus, diz que a Europa se preocupa demasiado com as notas das agências de rating, aconselhando os governos europeus que estão mais na berlinda, como o da Grécia e o de Portugal, a executarem as reformas que lhes são pedidas (no sector da saúde e da educação, exemplifica) além de prosseguirem com uma rigorosa disciplina orçamental. Se se cumprir esta dieta social talvez os mercados acalmem, promete aquele político dos EUA que também pensará, como o presidente Barack Obama que ele serve, que os Estados Unidos da América não são nem a Grécia nem Portugal.

Os Estados Unidos da América além de possuírem um poderio militar que supera várias vezes os de Portugal e da Grécia juntos têm também, incomparavelmente, muito menos história do que qualquer dos dois países europeus em separado. Não se pode ter tudo. Eles têm muitos vaivéns espaciais desactivados mas têm um Estado cujas funções sociais são bem menores das que são normalmente asseguradas pelos Estados europeus, em especial no campo da Educação e da Saúde. Jimmy Cárter ensaiou alguns avanços na área social, Barack Obama também, mas sabemos como tem sido inglória essa aproximação ao Estado-providência.

Será fácil a Christopher Smart dizer, como disse em recente entrevista, que a Europa dá demasiada importância às agências de rating quando sabemos que mesmo perante a hipótese, ténue que seja, dos Estados Unidos da América poderem entrar em incumprimento temporário relativamente à respectiva divida soberana, Washington continua a poder financiar-se a juros baixos, o que não se verifica por cá.

Por cá, citando o presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB), Dr. António de Sousa, os spreads do crédito à habitação vão continuar a subir e podem chegar aos cinco por cento. Isto devido à pressão que os mercados estão a exercer sobre o custo de financiamento dos bancos portugueses, ainda na opinião do presidente da APB. O Dr. António de Sousa vai mais longe e projecta um crescimento das entregas de imóveis em dação aos bancos, mais abertos a accionar penhoras do que a renegociar dívidas. Dívidas a bancos que, ainda segundo o presidente da APB, só no que toca à administração central, aos municípios e às empresas públicas aos bancos andam entre os 40 e os 50 mil milhões de euros, sensivelmente o que a banca portuguesa deve ao Banco Central Europeu (BCE).  Se esta dívida não esperar, como defende o Dr. António de Sousa, mais de metade dos empréstimos avalizados pela Troika irão direitinhos para os bancos.

E não haverá Christopher Smart que nos valha.

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luis.lima@apemip.pt

 

Publicado no dia 29 de Julho de 2011 no Sol

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