Deven Sharma, presidente da Standard & Poor’s, um negócio centenário norte-americano de informações sobre os riscos que os investidores podem correr, ao apostar neste ou naquele investimento, deste ou daquele país, Deven Sharma deve andar, por estes dias, com as orelhas a arder, tantos são os portugueses que querem roer-lhe na pele.
Estes avaliadores de risco, embalados pela situação que se vive na Grécia, elevaram o nível de risco de Portugal, em matéria de satisfação dos compromissos financeiros contraídos, apesar de reconhecerem que, comparativamente com o caso grego, a dívida portuguesa é menor; que o défice das contas públicas é inferior; e que, Portugal tem um histórico de boas contas e de verdade fiscal.
Lá longe, em alguns gabinetes destas agências, há quem não saiba muito bem onde fica a Grécia, nem onde fica Portugal, contentando-se em saber que os dois países são europeus e que, na Grécia, a coisa anda um bocado negra, e, talvez possa mesmo contagiar o que se passa em Portugal, o que é potencialmente muito assustador para quem investe nestes mercados.
Os mercados precisam de sinais que os acalmem. Quem pede emprestado tem de explicar, muito bem explicadinho, para que quer o dinheiro e como o vai aplicar. E os que emprestam, têm aquela mesma atitude das senhoras da caridade que dão uma parca esmola, desde que saibam que o pedinte não a vai esbanjar em vinho ou noutras gordas guloseimas.
A diferença é que, nesta alta roda financeira, os investidores, aconselhados por todos os Deven Sharma que chegaram ao patamar de Deven Sharma, correm a retirar os respectivos investimentos dos países onde investiram, quando lhes sopram ao ouvido que este ou aquele destino passou a ser de risco. Em nome do direito à informação devida a todos os investidores, lema das agências como a Standard & Poor’s que nos quer colar a alcunha de potenciais caloteiros.
Contra este autêntico bullying financeiro, importa desenhar, com urgência, uma nova ordem económica, mais fiável e credível, aferida de forma mais consensual e rigorosa, onde a atribuição de notas à credibilidade dos países, com as consequências inerentes, seja, tanto quanto possível, objectiva, e não determinada ao sabor de desconhecidas conveniências.
Infelizmente, para já, só nos resta a manifestação do nosso direito à indignação perante estes bullyings.
Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP
Publicado dia 30 de Abril de 2010 no Diário de Notícias