Qualquer guionista de telefilmes ou de séries televisivas, terá, mais cedo ou mais tarde, em noites (des) inspiradas, a tentação de inventar uma história de um homicida que tenta, sem êxito, esconder o cadáver nos caboucos, em cimento, de um enorme edifício em construção.
Nos bastidores de um qualquer CSI , sigla que em português significará Crime Sob Investigação e em inglês Crime Scene Investigation, discutir-se-á se pode haver crime sem o corpo, dúvida penal ainda há bem pouco tempo desenvolvida em mediatizados crimes contra crianças.
Sem esquecer que os crimes contra pessoas são, ou deviam ser, dos mais graves em qualquer sistema penal, quero hoje, no primeiro texto que escrevo após as autárquicas, lembrar que há, por aí, nas cidades e com volumetrias generosas, muito corpo de delito à vista e bem enquadrado.
Há quem diga que em Portugal “primeiro constrói-se, depois urbaniza-se”, numa lógica que é preciso inverter mas que não pode ser imputada ao sector imobiliário, nomeadamente aos promotores imobiliários. Qualquer CSI Cimento, apontará o dedo a um qualquer apressado Plano Director Municipal (PDM).
E mais do que inventar bodes expiatórios ou encontrar justificações eruditas, como a de dizer que Óscar Niemeyer, o arquitecto que desenhou a geométrica Brasília, prefere o caos carioca do Rio de Janeiro, importará forçar uma nova geração de PDM’s, mais adequada ao desenvolvimento sustentado.
Para salvar a alma das nossas cidades mais saturadas e a reputação de todos quantos podem agir nestas mesmas cidades, autarcas e promotores imobiliários incluídos, mas também jornalistas, arquitectos, geógrafos e outros políticos.
Publicado dia 17 de Outubro no Expresso