Há dez anos, o então senador brasileiro Carlos Patrocínio manifestava público receio pelo rumo que o Brasil parecia levar, permitindo o êxodo de profissionais de talento e projectando-se, nas palavras dele, como “uma nação de apertadores de botões, formando apenas técnicos que iriam operar as máquinas vendidas pelos grandes centros do conhecimento”.

O senador defendia uma política eficaz no aliciamento da juventude brasileira que sonhava em sair do país por nele não encontrar as condições mínimas necessárias para a realização que buscavam, nomeadamente em áreas como a da investigação científica. Dizia que sem melhoria da qualidade de vida nenhum jovem bem preparado resiste ao aliciamento do estrangeiro.

Dez anos depois, o Brasil é um dos países que aliciam os jovens mais capazes de outras democracias, incluindo a nossa, oferecendo-lhes condições de trabalho ímpares e pedindo-lhes que aceitem contribuir para o desenvolvimento de uma das economias emergentes mais bem sucedidas do mundo actual.

Nós, pelo contrário, deixamos que os nossos licenciados mais bem formados partam para outras paragens na procura das oportunidades que, aqui, começam a escassear num ciclo vicioso, tanto mais nocivo quanto o investimento que o Estado fez nessa juventude acaba a dar frutos noutras paragens.

Este é, porventura, o preço mais elevado que estamos, na presente conjuntura,  a pagar em muitas áreas, incluindo a do sector do Imobiliário e da Construção, um preço que paga taxas de juro crescentes e elevadíssimas e que pode adiar, por longos períodos, a nossa própria recuperação. Um alerta que ninguém pode ignorar.

Luís Lima

Presidente da APEMIP

luis.lima@apemip.pt

 

Publicado no dia 24 de Setembro de 2011 no Expresso

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