Não temos, como é natural e se compreende, a mesma perceção dos problemas. Desde logo pela posição relativa que cada um ocupa na sociedade, por exemplo no mundo empresarial, mas também pela conceção de vida que elegemos como sendo a nossa ou como sendo aquela que gostaríamos que fosse a nossa.

Quem trabalha por conta de outrem teme ficar sem emprego, nestes tempos difíceis de crise, situação que também assusta os empresários que temem pelas respetivas empresas, algumas das quais não sobreviverão se muitos assalariados perderem poder de compra e a possibilidade de contribuir para o mercado interno.

Em tempos de crise a pirâmide social altera-se profundamente, mas não obrigatoriamente com a descida generalizada ao patamar imediatamente inferior – as chamadas classes altas não estão imunes à situação e quando caem podem não se limitar a descer ao nível da chamada classe média.

Nestas diversas e relativas situações de aperto, algumas das quais pouco visíveis por serem deliberadamente escondidas, por vezes em nome de um pudor classista que todos têm de compreender como humano, nestas diferenças há sinais que devem ser lidos com muito atenção.

Ignorando as situações, já identificadas e, em alguns casos, com perspetiva de resolução, dos gerentes de empresas que não tinham acesso ao subsídio de desemprego mesmo tendo descontando para a Segurança Social, há situações de desemprego que uma vez generalizadas têm um efeito demolidor na sociedade.

Todo o desemprego é dramático para quem cai nessa situação. É-o para trabalhadores de fraca formação profissional inicial, mesmo que tenham algumas aptidões para tentar sobreviver na chamada economia informal, mas é também para os chamados altos quadros, altos funcionários, cujos rendimentos determinavam hábitos de vida que muito ajudavam a fazer funcionar alguns mercados.

O agravamento da situação económica do país, sem perspetivas de crescimento dignas desse nome, o encerramento de empresas, industriais e comerciais, a diminuição da prestação de certos serviços, esta implosão do modelo de sociedade que fomos projetando como sendo o de uma Europa próspera, está perigosamente muito próximo do grau do desencanto e do desespero, assumidos ou escondidos.

São sinais como estes, verdadeiros avisos à navegação, que devem merecer uma atenção especial de todos nós. Mais do que surpreendermo-nos com as quedas abruptas, na pirâmide social, de um vasto número de profissionais que julgávamos seguros no patamar em que os conhecíamos, devemos enfrentar seriamente este problema e inverter esta tendência.

Ignorar as consequências do desmoronamento da sociedade que fomos construindo na Europa que se reconstruiu após a II Grande Guerra pode ser fatal para os modelos que fomos idealizando e assumindo como os mais adequados para gerar riqueza e distribuir a riqueza gerada numa quadro de uma Economia competitiva e de uma sociedade solidária e com preocupações sociais.

O objeto da ação política é, afinal, este, ou seja, o de resolver estes problemas, por mais difíceis que eles se nos apresentem.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 15 de Julho de 2013 no Jornal i

Translate »