Há anos, no desmoronamento de um prédio que era uma pequena torre de mais de dez andares ocorrido num município limítrofe do Porto, o bode expiatório desse desastre, que por um milagre só causou prejuízos materiais avultados (ainda não estava habitado quando caiu como um baralho de cartas), o bode expiatório, sugerido por um autarca, foi a empresa que tinha efectuado os alicerces da obra, por sinal um nome de referência e ainda hoje muito respeitado no mercado.
Ainda sem as redes sociais de informação que hoje existem nesse espaço que é a internet, ainda sem a variedades de canais de televisão que hoje existem, mesmo em sinal aberto, os jornais, radio e a televisão já eram suficientemente fortes para na voracidade do ritmo da informação promoverem julgamentos sumários praticamente sem contraditório.
A empresa em causa, cujos responsáveis só foram ouvidos, em cima da hora do acontecimento, se a memória não me trai, por um jornal diário, garantiu logo que não era minimamente responsável pelo ocorrido, mas, inteligentemente reconheço hoje, não desencadeou como poderia quaisquer diligências no sentido da reposição da verdade e do seu bom nome.
Alguns anos depois, o Laboratório Nacional de Engenharia Civil, chamado a elaborar um relatório sobre o desmoronamento não só ilibou totalmente a empresa inicialmente sacrificada como bode expiatório como revelou que a margem de segurança dos alicerces era suficiente para aguentar mais alguns pisos do que aqueles que estavam previstos no projecto inicial.
O jornal que tinha ouvido os visados á data dos acontecimentos deu, depois, grande relevo ao relatório do LNEC, mas – percebo hoje como leitor e consumidor de média mais atento – ainda vivíamos, em Portugal, numa época em que as empresas faziam parte do elo mais fraco da sociedade e eram olhadas com uma desconfiança preconceituosa.
Hoje, felizmente, as empresas e os empresários, na globalidade, recuperaram força, pelo menos nesta matéria, e cederam a outros, nomeadamente a funcionários da administração pública que estão agora entre os mais atingidos por processos desta natureza, a fragilidade da imagem que então ostentavam.
É por isso que não posso deixar de considerar como sendo igualmente inaceitável que suspeitas da eventual existência de corrupção na atribuição de vistos gold continuem a servir para precipitar julgamentos primários e sumários, que põem em causa princípios básicos do Direito, numa cruzada que – já o disse noutros locais – mais parece desencadeada para inviabilizar projectos que podem ser positivos para a Economia Portuguesa do que para servir a Justiça.
Diz-se – e eu subscrevo – que uma árvore não faz a floresta nem a morte de uma andorinha a morte da Primavera. O contrário são excessos bem pouco transparentes que ao lançar as sementes das dúvidas mais insidiosas minam a nossa própria confiança coletiva, tão necessária aos desafios que temos de enfrentar para superarmos o momento difícil que Portugal está a atravessar.
Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com
Publicado no dia 16 de junho de 2014 no Jornal I