Dizem que a História não se repete mas citando Paul Krugman, o Prémio Nobel da Economia que tem vindo a revelar-se um amigo de Portugal, podemos, infelizmente, acreditar, que estamos, neste jardim à beira mar plantado, a viver um pesadelo semelhante ao que os norte-americanos viveram nos anos que se seguiram à Grande Depressão de 1929.

As palavras não são minhas e foram recentemente publicadas no jornal Financial Times pelo referido Nobel: Portugal vive um pesadelo económico-financeiro e é preciso fazer alguma coisa. Para Krugman importa, no mínimo, “sobre como e porquê é que estamos a permitir que este pesadelo aconteça de novo, três gerações depois da Grande Depressão”. 

O economista vai mais longe e diz que na base desta desgraça estão as políticas erradas que estão a desfazer a Europa. O nosso pesadelo económico-financeiro passa, lembra, pela condenação ao desemprego de milhares de trabalhadores. Uma condenação que não pode, no entender do economista, ser exclusivamente justificada pelas más políticas portuguesas do passado.

A evocação da Grande Depressão dos anos 30 nos Estados Unidos da América é terrível, mas é assustadoramente apropriada. Entre nós, tal como o viveram os americanos há quase cem anos, há também uma imensa maioria da população que carece de uma vida digna e que sofre com o desemprego. 

Nos anos 30 do século passado, na América em crise, apareceram tábuas de salvação tão estranhas como as maratonas de dança, a levar ao extremo a resistência dos concorrentes que nelas participavam, a troco de comida, de roupas e alguns cêntimos. Isto foi magistralmente retratado num livro, de Horace McCoy, e num filme, de Sydney Pollack, o segundo baseado no primeiro e ambos com o significativo título de “Os cavalos também se abatem”.

Livro e filme são obras da ficção literária e cinematográfica mas retrataram com uma crueza muito próxima da realidade o que a Grande Recessão provocou à população dos Estados Unidos da América. Ao ler o que Paul Krugman escreveu sobre Portugal não posso deixar de pensar que não temos a dimensão geográfica e populacional da América para podermos “oferecer” soluções momentâneas de vida como aquelas maratonas de dança.

As palavras do insuspeito prémio Nobel da economia sublinham as condições “profundamente  deprimentes” que Portugal vive, nomeadamente no plano das empresas familiares que, como ele reconhece, foram e são o núcleo da economia e da sociedade portuguesas. Para solucionar estes constrangimentos, a solução mais eficaz está na adopção de políticas monetárias e orçamentais expansionistas – algo fora do alcance dos países que não têm moeda própria.

Ou acaba o euro – diz – ou a zona euro adopta políticas expansionistas no seu todo, que passam por inflações mais elevadas no centro da Europa, nunca pelo remédio generalizado da austeridade justificado nos supostos perigos exclusivos da dívida pública. 

Como Paul Krugman, também digo que “o importante agora é mudar as políticas que estão a criar este pesadelo”, acrescentando a ideia, muito forte reconheço, mas terrivelmente real, de que nós, portugueses, ainda não estamos disponíveis para sermos abatidos, como na imagem do livro de Horace McCoy e do filme de Sydney Pollack.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 07 de junho de 2013 no Sol

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