Encontrei há dias, numa destas manhãs de domingo em que os centros das cidades estão mais despovoados, um jovem fotógrafo profissional, filho de um amigo meu, a captar, fotograficamente, bandeiras de portas de algumas ruas centrais do Porto, daquelas elegantíssimas portas das casas de três vãos, erguidas em lotes estreitos e profundos, que marcam a alma da cidade Invicta.

No breve diálogo mantido na circunstância do encontro fortuito, percebi que o fotógrafo estava verdadeiramente deslumbrado com aquilo a que ele chamou de rendas em ferro forjado, tão deslumbrado, que chegava a comparar aqueles elementos arquitectónicos das portas das casas dos chamados lotes góticos, às rendas em croché que muitas avós conservam como tesouros sem preço.

Na súbita revelação deste trabalho fotográfico, cujo destino desconheço, mas julgo ligado a áreas académicas, a urgência da reabilitação e da regeneração dos centros urbanos, incluindo natural, mas não exclusivamente o do Porto, projectou-se também como a redescoberta de tesouros antigos que têm estado escondidos aos nossos olhos, de tão presentes estarem nos nossos apressados itinerários quotidianos.

Algumas das bandeiras das portas das casas de oitocentos e de novecentos do Porto, como as bandeiras em que o ferro forjado está pintado de branco, parecem guardiãs de uma luz própria que empresta ao edifício a elegância, a raridade e a delicadeza de uma renda a ornamentar um belo pano de linho, fio e linho suficientemente fortes para renasceram em novas funções. Assim, saibamos recuperar e reabilitar esses tesouros.

Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP

Publicado dia 22 de Maio de 2010 no Expresso

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