Desde o final de 2013 que o imobiliário tem vindo a crescer, depois do que muito sofreu e estagnou durante os tempos de crise. Tempos, em que me bati fortemente contra a desvalorização artificial dos preços das casas, num período em que se tentou esmagar o valor do património imobiliário português, a pretexto de uma bolha imobiliária que, na realidade, não existia.
O que muito contribuiu para a tal desvalorização foi o baixo valor médio da avaliação bancária, numa tentação que, felizmente foi travada, e que visava um rápido escoamento dos ativos. E não faltava quem incentivasse essa desvalorização do património, com a clara intenção de comprar a preços muito favoráveis, em nome das chamadas “oportunidades da crise”.
Fui, nestes tempos, das poucas pessoas em Portugal que defendeu a inexistência de uma bolha imobiliária no País, numa tarefa muitas vezes solitária, em que tentei, constantemente, inverter as insistentes notícias sobre a bolha que estaria a eclodir no sector.
Felizmente, o tempo deu-me razão e confirmou a inexistência desta bolha.
Hoje, estamos perante um fenómeno que espelha exatamente o contrário da desvalorização dos preços das casas e o fantasma da bolha imobiliária regressou, questionando-se agora a existência de uma bolha especulativa, pela valorização dos ativos.
Importa recordar que o mercado imobiliário não é exclusivo de cidades como Lisboa ou Porto. Portugal é bem maior que isso. Mas, mesmo dentro destas cidades, há dinâmicas muito díspares no que diz respeito aos valores de oferta dos imóveis. Se há zonas prime, em que os preços subiram bastante, há outras em que a valorização dos ativos se faz de forma sustentável, bem como nas restantes regiões do País.
O mercado imobiliário é, como qualquer outro, dominado pelas leis da oferta e da procura. E o valor que os ativos podem atingir depende mais da procura do que da oferta. Por vezes, atingem-se valores recorde, porque há quem esteja disposto a pagá-los. Quem vende, pode por isso pedir os valores que bem entenda, mas, no fim, quem determina a concretização do negócio será sempre a procura.
É factual que esta última tem vindo a aumentar, fazendo por isso com que os preços também aumentem. Em determinadas zonas, e devido a ausência de stock, registam-se também fortes desequilíbrios entre os valores de oferta e os valores que a procura está disposta a pagar, sendo por isso necessário o regresso à construção nova, para renovar o stock e estabilizar os preços. Mas este é um fenómeno específico de determinadas zonas.
No mercado imobiliário, tal como na bolsa, também há investidores que são profissionais. E como os demais mercados, o imobiliário apresenta investimentos de risco alto, moderado ou baixo, sendo que os mais rentáveis são sempre o que apresentam maior risco.
Sempre defendi que os investidores que procurem risco, devem também procurar alternativas de investimento ao imobiliário. Mas são estes os primeiros a procurar este mercado, e também os principais interessados na especulação.
Quem atua no sector deve, acima de tudo, promover o seu crescimento sustentável, do qual todos podem beneficiar, durante um mais longo período de tempo. Devemos por isso defender o nosso mercado imobiliário. Tivemos uma segunda oportunidade. Podemos não ter mais nenhuma…
Luis Lima
Presidente da APEMIP
luislima@apemip.pt
Publicado no dia 3 de Maio de 2017 no Público