A taxa de esforço das famílias portuguesas começa a dar sinais de estar em limites muito mais insuportáveis do que imaginamos, quando até os incumprimentos dos condomínios estão a crescer para valores inabituais, a par de decisões pouco ortodoxas como as de espaçar as limpezas das zonas comuns ou, pior ainda, deixar de assegurar a manutenção de elevadores, o que implica, a não utilização desses mesmos elevadores.

Num cenário de agravamento dos impostos sobre o património e sobre os rendimentos,  neste tempo de dificil funcionamento do próprio mercado de compra e venda (assim impossibilitado de funcionar como solução fácil para in extremis acudir a apertos ainda maiores),esta tendência para o incumprimento de obrigações comuns no âmbito de um condomínio projeta cidades como as que nos habituamos a identificar em países fustigados por guerras.

E não podemos responsabilizar as mais de 75% das famílias portugueses que ainda são proprietárias da casa onde vivem, gente que na realidade foi “forçada” a adquirir casa própria num fenómeno que durante muitos anos foi marcado pela quase exclusividade do mercado imobiliário de compra e venda, num quadro de facilidades de acesso ao crédito, sem outras alternativas habitacionais racionais.

Muitos dos que durante anos e anos foram aliciados para adquirir a crédito fácil casa própria, estão agora, pela alteração perversa das condições de vida que eram dadas como adquiridas, a pagar um preço que não aguentam para lá dos limites da taxa de esforço que poderiam, realisticamente, aceitar e projetar.

O país não está em guerra, mas em alguns aspetos parece.

Luís Lima

Presidente da APEMIP e Presidente da CIMLOP 

Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa

luis.lima@apemip.pt 

 

Publicado no dia 08 de dezembro de 2012 no Expresso

Translate »