A Brickell Avenue de Miami, ainda há pouco tempo denominada a Wall Street do Sul, era, há meia dúzia de anos, uma das localizações mais procuradas e caras para o imobiliário da Florida.
O “boom” imobiliário do princípio do milénio, em Miami, superava o da década anterior e ocorria num cenário económico e demográfico favorável ao sector residencial.
A procura estava ávida e absorvia a oferta, mesmo a preços elevados. A Florida era desejada como destino de vida para muita gente, e, isso causou alta dos preços de imóveis residenciais.
Há meia dúzia de anos, Miami era o primeiro dos mercados aquecidos dos EUA (“white hot”), captando investimentos internacionais na América Latina e na Europa, neste caso a beneficiar do euro forte.
A urgência em comprar casa na famosíssima Palm Beach, onde erguem-se arranha-céus de luxo, desenhados por arrojados arquitectos, com comodidades e vistas ímpares, tornou baratos os preços altos.
Devido ao clima agradável e à baixa dos impostos sobre o imobiliário, a Florida é um destino de aposentados e tem menos residentes nascidos no Estado, do que, nascidos noutras paragens.
Com maior ou menor sacrifício, uma parte significativa do parque residencial da Florida são casas próprias de quem as habita, apesar do preço ter passado a ser superior ao da média nacional nos EUA.
Este paraíso, em grande parte constituído por segundas habitações, apenas parecia temer o possível aumento das taxas de juros dos empréstimos, mas nem isto afastou os investidores.
Alan Greenspan, então presidente do Banco Central dos Estados Unidos, advertia, em 2005, antes da deflagração da chamada crise do sub prime, que este boom iria acalmar.
“Os negócios, envolvendo imóveis residenciais, diminuirão dos actuais níveis históricos, haverá uma redução do ritmo dos aumentos de preços e alguns poderão até mesmo diminuir”, disse Greenspan.
O resto da história é conhecida. Fala-se, agora, nos EUA, numa quebra de preços na ordem dos 60%, o que significa que há gente a pagar casa que ainda deve mais do que precisaria para comprar outra casa aos preços do momento.
Esta situação é potencialmente muito explosiva, nomeadamente para o sector financeiro. O incumprimento pode disparar e transformar-se numa bola de neve que atingirá a banca.
A desvalorização do património imobiliário não beneficia ninguém, pelo contrário, prejudica toda a gente e a Economia. Felizmente que, o que está a ocorrer na Florida não tem paralelo em Portugal, apesar de haver gente, por cá, muito empenhada em nos assustar neste sentido.
Luís Carvalho Lima
Presidente da APEMIP
Publicado dia 16 de Fevereiro de 2011 no Público Imobiliário