Parece que continuamos a perder por um a zero com a Espanha, e, já não é só por causa desse golo (reconhecidamente irregular para muitos), que David Villa marcou nos oitavos de final do Campeonato do Mundo de Futebol. Nos últimos tempos temos marcado muitos golos na própria baliza.
E nestes prolongamentos da crise, os árbitros estão a beneficiar a Espanha relativamente a Portugal, na avaliação que fazem à eficácia no combate ao défice público de ambos os países, avaliação que se traduz na diferenciação nos juros pelas dívidas de longo prazo.
Há dias, o governo de Madrid conseguiu baixar os juros pagos aos investidores que cobriram a dívida de longo prazo, em contraste com o que ocorreu com a dívida de Portugal cujos custos têm vindo a aumentar nas últimas operações.
Na base destas disparidades está a imagem que transparece para o exterior, e, que aponta para uma “falta de consolidação orçamental a reflectir-se num crescimento da despesa pública mais rápido do que o que seria aparentemente desejável para atingir os objectivos traçados”.
Já não basta a certeza de que o país venha a ter, em 2011, um Orçamento de Estado aprovado com larga maioria pela Assembleia da República, certeza que ainda não está, verdadeiramente, garantida. O Orçamento de Estado é também como a mulher de César, não basta ser sério…
O país precisa de um Orçamento de Estado consensual para viabilizar qualquer governação, mas, precisa também, que esse instrumento se anuncie fiável aos olhos externos, principalmente aos olhos de quem detém o poder financeiro e de quem avalia as nossas taxas de rentabilidade.
É precisamente face à taxa de rentabilidade exigida pelos investidores, que Portugal está a pagar mais 175,5 pontos base do que a Espanha nas dívidas a dez anos, o que acontece pela primeira vez, desde que foi aprovado o fundo de estabilização financeira da União Europeia, no início de Maio.
Soube-se isso quando a Espanha conseguiu colocar quatro mil milhões de euros em obrigações do tesouro a taxas inferiores às obtidas por Portugal, para empréstimos do mesmo tipo a vencer em prazos idênticos. Se isto não é mais um golo na própria baliza…
Já não é só o desejo de nos apresentarmos “como um país inovador e exportador”, um país que aposta na ligação entre as universidades e as empresas, na biotecnologia, na nanotecnologia, no sector farmacêutico, nas tecnologias de informação que está, deste modo, comprometido.
Não podemos continuar, por muito mais tempo, a perder por um a zero com a Espanha. Até porque, alguns dos nossos mercados, como o mercado imobiliário, mantiveram, durante a presente crise, comportamentos de resistência muito mais elevados do que os verificados em Espanha.
Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP
Publicado dia 22 de Setembro de 2010 no Público Imobiliário