Originariamente colocada entre a classe dos senhores que detinham as terras e os bens de produção e a classe de quem trabalhava nas terras e nas fábricas, a classe média é hoje um dos pilares das chamadas economias de mercado, sendo responsável pela principal fatia das procuras internas, por possuir um poder de compra suficiente para garantir as necessidades básicas e para aceder a um estilo de vida que implica uma múltipla fruição de outros bens e serviços.

Não tão reconhecidamente ricos como os velhos senhores herdeiros dos suseranos feudais, mas igualmente longe da pobreza secular dos servos da gleba e de outros vassalos, os cidadãos que podiam ser considerados da classe média chegaram, em alguns momentos históricos de incremento do comércio urbano, a possuir fortunas consideráveis, quase sempre relacionadas com o crescimento das grandes cidades, deixando públicas marcas testemunhais, na Europa, pelo menos na Arquitectura.

Pelo poder de compra, começaram a aceder a elevados níveis de instrução e de  conhecimento, absorvendo profissionais liberais que desempenham um trabalho classicamente intelectual, tendo chegado mesmo a aspirar a classe politicamente determinante, quando, no auge da conflitualidade da Guerra Fria, entre o bloco capitalista e o bloco socialista, algumas sociedades da Europa do Norte ensaiaram uma chamada terceira via, dirigida pela sensibilidade daqueles profissionais tornados os verdadeiros gestores dessas Economias.

Este exército de académicos, onde cabem advogados, engenheiros, professores, médicos, cujos hábitos fazem mais escola e são mais referenciáveis do que outros, porventura até mais elitistas, exército que alimenta o movimento dos museus, dos teatros, das salas de música, dos restaurantes de boa qualidade e até a leitura de certas revistas e de certos jornais, para não falar do negócio de carros de média alta, das viagens turísticas e de outros gadgets, este exército está, perigosamente para todos, a perder o emprego, a casa, a face e a vontade de dar a volta a esta situação.

Acresce que, os caminhos do crescimento e do desenvolvimento das Economias mais importantes do presente têm em comum o reforço da classe média, a diminuição do fosso entre pobres e ricos com uma tendência para a erradicação da pobreza e não para o contrário. Foi um movimento neste sentido da consolidação da classe média, com a promoção das classes mais desfavorecidas, nomeadamente no acesso ao emprego num quadro de economia formal, que o Brasil dos últimos dez anos avançou para a Economia emergente que hoje é no plano global. Entre nós, infelizmente, os cenários que se desenham vão no sentido oposto não augurando nada de bom para o futuro. Importa reflectir bem sobre tudo isto.

Luís Lima

Presidente da APEMIP e Presidente da CIMLOP

Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa

luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 07 de novembro de 2012 no Público

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