Quando falamos do Brasil como uma das economias emergentes, país que empresta a sua letra inicial para primeira letra da sigla BRIC com que os economistas batizaram aquelas economias de sucesso, quando falamos no sucesso do Brasil, da Copa do Mundo em 2014, dos Jogos Olímpicos em 2016 e de outros acontecimentos como por exemplo a 22ª Conferência Internacional de Promoção de Saúde, a realizar em Curitiba, em 2016, quando falamos deste novo Brasil falamos sempre da ascensão, nos últimos anos, de 30 milhões de brasileiros pobres ao patamar da classe média, com inclusão na economia formal.

Este feito, a estreitar a base da pirâmide social, sempre muito larga nos países onde o fosso social é grande, esse feito é, na teoria e na prática, considerado uma das traves mestras do próprio crescimento e desenvolvimento daquele país continente que tanto gostamos, em parte pela ilusão de pensar que fomos nós quem o descobriu, o que é, historicamente, apenas uma manifestação datada do tempo em que a Europa se sentia o centro do Mundo. Já não o é, como se sabe mas não se diz, e sê-lo-á ainda menos se continuar a apostar em agendas de empobrecimento generalizado. 

Digo isto escudado nas mais recentes estatísticas oficiais da União Europeia que revelam que um quarto da população portuguesa é pobre ou está em risco de se tornar pobre e sofrer uma forte exclusão social, percentagem só ligeiramente superior à percentagem de pobres da própria União, cujo exército da base da pirâmide social ultrapassa os 124 milhões de pessoas, também quase um quarto da população da União Europeia.

Se vivêssemos hoje no tempo dos impérios, nenhuma potência europeia, nem mesmo a Alemanha de Angela Merkel, conseguiria descobrir fosse o que fosse e muito menos sentir-se o centro do Mundo, na exata medida em que nenhum país é forte se um quarto da sua população for pobre ou estiver a ser empurrada para a pobreza, mesmo considerando as teorias que apostam no aumento da austeridade como condição para aumentar a produtividade e o crescimento.

Quando ao grupo das pessoas claramente pobres se junta o grupo das pessoas em situação de privação material grave e ainda o grupo, também significativo entre nós, das pessoas que vivem em agregados familiares com fraca intensidade de trabalho, quando estes grupos se fundem na base da pirâmide social, o país, qualquer país, corre o risco de passar a longínqua fronteira do não retorno atempado a um tempo de crescimento económico e de criação e distribuição de riqueza.

Um dos últimos sinais da passagem dessa fronteira é a perda sucessiva de uma das riquezas que mais nos custou a juntar, a riqueza do património construído, um valor preservado com tanto sacrifício que deveria, pelo seu próprio valor intrínseco, contribuir para a solução da nossa crise e não para agravar o problema. A pergunta de sempre é sempre a mesma – o que queremos quando des(esperamos) por uma Reabilitação Urbana que dinamize um sector fundamental para a nossa recuperação económica. Que esperamos para travar este plano inclinado para a pobreza?

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 11 de Dezembro de 2013 no Público

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