Ainda não recuperei bem do choque que foi confirmar o lugar que nos cabe no ranking do poder de compra na Europa em 2015. Estamos muito abaixo da Irlanda, abaixo da média europeia, abaixo da Espanha e apenas nos comparamos a países como a República Checa, a Eslovénia, a Eslováquia ou a Grécia que durante tantos e tantos anos nos livrou de ocuparmos o último lugar em muitas listas do desenvolvimento europeu.

Não sonharia com o poder de compra do Norte da Europa, com o poder de compra de uma Noru-ega ou de uma Dinamarca, para não falar nos suíços, mas estarmos significativamente abaixo da Espanha (10,492 euros contra 13,203) é, rivalidades desadequadas e sem sentido à parte, uma comparação que diz bem do nosso posicionamento na Economia europeia e que mostra a urgên-cia em alterar esta situação.

Estes números da chamada Renda Disponível, ou seja, do dinheiro que cabe, em média, a cada um para os gastos com o consumo (alimentação, alojamento, vestuário, cultura, tempos livres, etc etc) e ou para a possibilidade de reforçar um qualquer pé-de-meia, deixam-nos meios desiludidos  e fazem com que acreditemos pouco na possibilidade do mercado interno poder contribuir, como seria desejável, para a dinamização da nossa Economia.

São números, sublinhe-se, apurados por analistas externos e independentes, e são, essencial-mente, números que fazem uma radiografia muito rigorosa do país de que somos e das dificulda-des que sentimos em fugir dos ciclos viciosos que contemplam enormes taxas de desemprego a par de muitos empregos que conferem a quem os ocupam rendimentos que não descolam do limiar mínimo de sobrevivência, o que não é saudável para o desenvolvimento e crescimento eco-nómicos.

No início de cada ciclo da nossa vida colectiva há sempre a esperança de que se ensaiem novas soluções que possam trazer perspectivas mais optimistas. A chamada convergência com a Euro-pa, uma Europa comunitária onde já estamos há mais de um quarto de século, tarda em ser al-cançada, sendo certo que muitos vão descrendo dos valores dessa mesma Europa quando os anos passam sem que haja benefícios evidentes para cada um dos cidadãos portugueses que querem ser também europeus.

Claro que o estado de graça da convergência europeia não se alcança com uma espécie de ora-ção que pudéssemos entoar evocando, como faço no título, esse poder de compra nosso que estás tão baixo. Mas também não é justo que o país fique tanto tempo à espera do prometido tempo de aproximação às médias europeias e, muito menos, que se diga que a culpa deste estado de coisas é dos portugueses.

Talvez seja, mas não pelas razões que normalmente são adiantadas. É por isso que reconheço, como dizem algumas pessoas, que deve haver um medo maior do que o medo das mudanças e que este medo só pode ser o de que as coisas nunca mudem. Preferencialmente para melhor, entenda-se, mas que mudem.

A começar, se possível, pelo nosso poder de compra que mais do que baixo está abaixo da média europeia revelando como é difícil caminhar para a tão prometida convergência europeia, que a coesão europeia anunciava e, parece, ainda anuncia.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 9 de Novembro de 2015 no Jornal i

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