O primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho admitiu recentemente a possibilidade de Portugal poder vir a necessitar de um segundo resgate, na sequência dos chumbos do Tribunal Constitucional, mas esta opinião não é partilhada pelo ministro alemão das Finanças para quem o nosso país e a Irlanda talvez não venham a precisar de mais ajuda financeira, mesmo considerando os altos e os baixos dos mercados financeiros, sempre muito nervosos.

Estas declarações de Wolfgang Schäuble foram tornadas públicas numa entrevista publicada no jornal alemão Die Welt mas estão seguramente contaminadas pelas eleições para o Parlamento Federal Alemão que se realizam depois de amanhã, dia 22 de Setembro e que, muito provavelmente, irão ditar uma representação parlamentar favorável à manutenção de Angela Merkel como chanceler alemã.

Lá como cá, que também estamos a viver um Setembro eleitoral, as eleições são sempre momentos muito sensíveis e propícios a declarações desta natureza, declarações que, em abono da verdade, fazem pouco sentido embora, no caso destas sentenças alemãs, confirmem essa indisfarçável vontade de hegemonia da Alemanha sobre a Europa. Uma vontade que também foi evidente pela indiscrição da Imprensa a revelar que Angela Merkel quer impor o alemão como língua oficial da União Europeia.

A língua alemã é menos falada no Mundo do que o Português ou do que o Castelhano e embora a cultura alemã seja muito importante e, na União Europeia,  os falantes de Alemão superem os que falam Português ou Castelhano seria de bom tom contemplar as demais línguas vivas da Europa sem cair na tentação de ignorar e menosprezar os outros, tentação que no caso da Alemanha já contabilizou milhões de assassínios só durante o século XX.

Angela Merkel que cresceu medindo, politicamente, muito bem e com muito cuidado, as palavras que proferia, quando a Alemanha ainda estava dividida em duas e ela vivia na Alemanha de Leste, Angela Merkel tinha a obrigação de saber quão feio é deixar transparecer uma posição política hegemónica, como acontece quando o ministro alemão das Finanças opina sobre o nosso futuro e indica o nosso caminho, ignorando olimpicamente, a opinião do primeiro-ministro português.

E afinal, em quem devemos acreditar? Em Pedro Passos Coelho que sempre se mostrou muito próximo das posições alemãs face à chamada crise do euro ou em Wolfgang Schäuble, o poderoso ministro das Finanças alemão, que pura e simplesmente diz o contrário relativamente ao que ele entende como plausível e adequado para a Economia Portuguesa.

Poeira alemã, esperemos que apenas eleitoral, mesmo que as premonições financeiras de Schäuble pareçam favoráveis e agradáveis de ouvir. Mais  na Alemanha, por determinadas razões, menos em Portugal onde, por estas e por outras, começamos a duvidar das receitas que nos prescrevem por desconfiarmos que qualquer delas, a que mete novo resgate ou a que o dispensa, não nos livre de uma austeridade que parece não ter limites nem ser libertadora.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 20 de Setembro de 2013 no Jornal Sol

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