O urbanista e político brasileiro Jaime Lerner, nome de referência internacional nestas matérias, diz que, o duplo desafio de reabilitar a regenerar cidades, implica um olhar global sobre esta realidade que contemple as melhores soluções em matéria de sustentabilidade, pela via da utilização de novos materiais, pelo recurso às novas energias, pela reciclagem…
Este duplo desafio é uma adequada resposta às exigências de uma procura mais sofisticada e consciente, mas implica que ganhemos todos consciência que, sair de um edifício verde para entrar noutro edifício verde, passando pelas ruas de uma cidade que não é verde, é uma completa ingenuidade.
As cidades, às vezes esquecidas, às vezes relegadas para um plano periférico, são o grande desafio do mercado imobiliário português, pelo que a mais recente aposta na reabilitação e regeneração urbanas é, não apenas uma saída segura para tornear algumas vicissitudes do presente, como também, imperativo do próprio desenvolvimento sustentado.
Como em tempos escrevi, para enquadrar uma selecção de artigos sobre reabilitação, esta não pode ser radical e imposta como a que o Barão de Haussmann determinou, às ordens de Napoleão, numa Paris medieval, por muito que gostemos dos boulevards por ele rasgados, mas deve assentar na promoção de uma cultura para a reabilitação, indispensável no contexto que vivemos. O Marquês de Pombal já morreu, bem como o Almada que ele enviou para revitalizar o Porto oitocentista.
A esta luz, digo que o importante das opções assumidas pelo Governo sobre reabilitação urbana, opções aprovadas no dia 17 de Março em Conselho de Ministros e nesse mesmo dia apresentadas pelo Senhor Ministro da Economia, no Seminário que a Associação de Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP) organizou no Salão da IMOBITUR, reside especialmente na opção de Estado pela cultura da reabilitação.
São medidas justíssimas que pretendem promover a reabilitação urbana e que assim também abrem novas janelas de oportunidades ao sector da Construção e do Imobiliário, medidas que estão acima de qualquer estratégia corporativa ou política, na sua concepção mais estreita, e que por isso são medidas de Estado, inevitavelmente consensuais.
E o pior que lhes pode acontecer, num risco mais elevado em momentos de incertezas e de incapacidades para saber distinguir o essencial do acessório, é que sejam opções olhadas de soslaio e não reconhecidas como do interesse nacional, que uma cultura pela reabilitação e regeneração das nossas cidades contém.
Luís Carvalho Lima
Presidente da APEMIP
Publicado dia 1 de Abril de 2011 no Sol