Devia haver uma escala para medir a Reabilitação Urbana. Uma escala como a escala para dureza dos minerais ou, mais adequadamente, uma escala como as escalas para aferir a violência dos sismos, mas, claro, de sinal contrário. Dir-se-ia que uma cidade só poderia ser classificada como estando no grau máximo dessa hipotética escala da reabilitação se todos os edifícios dessa mesma cidade estivessem perfeitamente conservados e tivessem recebido todos os melhoramentos que o estado da arte de construir permite.
Uma situação quase impossível de alcançar pois, no limite, as cidades teriam de transformar todos os edifícios em edifícios sustentáveis, capazes de gerar a própria energia que precisam para funcionar, e, no caso de cidades como a de Lisboa, onde está a decorrer mais uma – a segunda – semana para a reabilitação, edifícios preparados para suportar sismos, pelo menos de intensidade média, tendo em conta a própria geologia da região onde a nossa capital está construída.
Isto sem esquecer que uma reabilitação urbana também pode e deve abrir-se como um registo da própria história das cidades, história sempre traçada também pelos traços da arquitetura – é precisamente por este ângulo que justificamos a justeza das segundas oportunidades para os edifícios e, em fases mais adiantadas, que reconhecemos o esplendor de muita Reabilitação Urbana.
Reabilitação urbana – não me canso de insistir – preferencialmente com regeneração urbana, na consciência de que uma cidade com um centro histórico reabilitado e habitado, com a vida própria do dia e com a vida própria do entardecer e da noite, é uma cidade que acolhe cidadãos seguramente mais disponíveis para a tarefa colectiva de fazer renascer a nossa Economia, desde logo pelo impulso da nossa autoestima.
Na emblemática cidade brasileira de S.Paulo, de onde escrevo esta reflexão, olho para Lisboa, para a nossa capital cheia de história de cultura, e de luz, como uma cidade empenhada em aprofundar a sua própria reabilitação assumindo-se como pólos de desenvolvimento, um desenvolvimento que passa pela defesa do património construído, no caso da capital um riquíssimo património que merece ser exemplarmente salvaguardado.
Sem exagerar na dose do pecado centralista, direi, a terminar, que o exemplo de Lisboa deveria multiplicar-se e contagiar outras cidades. Pelo imperativo ético da Reabilitação Urbana, pela urgência em fazer com que as cidades se tornem inteligentes, amigas do ambiente e economicamente sustentáveis e pela oportunidade de fazer com que as cidades assumam o papel de lugar privilegiado para a fruição dos direitos de cidadania.
Todas as iniciativas que inscrevem nos seus objectivos estas metas merecem o meu aplauso, sem prejuízo de lembrar que estes desafios fundamentais para o país serão tanto mais eficazes quanto souberem afirmar-se localmente num quadro global nacional – todas as sinergias são poucas para impor Reabilitação, para impor uma reabilitação no grau máximo das escalas.
Luis Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com
Publicado no dia 15 de Abril de 2015 no Público