Volto ao tema do compromesso storico que inspira novamente o novo governo italiano, para sublinhar que aquela imagem de unidade italiana já fez com que Itália tenha conseguido colocar 6000 milhões de euros em títulos a cinco e a 10 anos, a juros mais baixos do que tinha vindo a pagar nas emissões precedentes comparáveis.

Três mil milhões de euros a dez anos foram colocados a uma taxa de juro de 3,94%, pela primeira vez, em três anos, abaixo da barreira dos 4% de quase um ponto percentual a menos do que os juros (de 4,66%) que foram fixados no anterior leilão de 27 de Março. Os restantes três mil milhões de euros, a cinco anos, fixaram-se a 2,84%, também menos do que no leilão de Março.

A Itália, num esforço de unidade que historicamente não é fácil num país que só se reunificou no século XX, parece que deixou de ser aquele velho Estado de governos ingovernáveis, conseguindo uma ampla coligação, da Direita à Esquerda, uma verdadeira frente empenhada  na imediata recuperação da Economia pela adoção de políticas claramente voltadas para o crescimento.

Este empenho foi assumido, desde o início deste governo, pelo novo primeiro ministro italiano, político do centro esquerda, que teve a lucidez de acertar  na escolha do titular das Finanças e da Economia, o banqueiro Fabrizio Saccomanni, respeitado economista e político italiano que as próprias instituições financeiras da Europa bem conhecem.

A tendência, em queda, dos custos dos empréstimos referenciais para a Itália, voltou a confirmar-se no mais recente dos leilões, o que consolida a presente reprise do modelo de compromesso storico que fez história, há 40 anos, com os entendimentos entre o eurocomunista Enrico Berlinguer e o democrata cristão Aldo Moro, cujo desfecho, ao que se julga ditado de fora, foi o trágico rapto e assassínio de Moro em 1978.

Nós por cá, em Portugal, que vivemos na história recente momentos de grande tensão mas soubemos encontrar soluções para evitar ruturas tão graves como teria sido uma guerra civil que não terá andado longe em 1975, nós, os portugueses, devíamos, sem prejuízo das diferenças e dos diferentes interesses dos vários grupos da sociedade, encontrar também um compromisso abrangente.

Não é fácil, reconheço, num país que fez uma transição tardia para a Democracia, vindo de um regime de partido único que à data do rompimento político de 1974 chamava-se Ação Nacional Popular e era a herdeira da mais conhecida União Nacional. Não é fácil encontrar compromissos históricos como a Itália sabe encontrar mas é absolutamente vital fazê-lo.

De referir que a continuação dos bons resultados que a Itália tem registado, neste novo quadro e no regresso aos mercados das dívidas soberanas, foi alcançada num cenário ainda adverso, marcado pelas classificações negativas das agências de risco, como a Moody’s, que sempre agoiraram a possibilidade de Roma ter de vir a pedir um resgate, como aconteceu com Portugal.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

 

 

Publicado no dia 05 de junho de 2013 no Público

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