Estamos mesmo a precisar de mais, de muitos mais festivais de chocolate e até – estou certo que não é pedir exageradamente – de uma mão de Deus, talvez mesmo de várias mãos de Deus que nos ajudem a ganhar o Euro 2012, em futebol, entenda-se. Eu quando digo mão de Deus, neste domínio desportivo, não estou a pensar em golos marcados com a mão, como aquele célebre de Maradona nos quartos de final do Campeonato do Mundo de 1986, entre a Argentina e a Inglaterra, um dos mais célebres golos de sempre.
A Argentina viria a ser campeã mundial nesse ano, mas quatro anos antes, em 1982 tinha perdido a sério contra a Inglaterra da já conhecida Dama de Ferro que foi Lady Margaret Thatcher, na guerra das Malvinas, um conflito armado entre Londres e Buenos Aires pela soberania sobre aquele arquipélago do Atlântico Sul. A vitória inglesa contribuiu para a reeleição, em 1983, de Thatcher e a derrota argentina para a queda da ditadura militar que dominava este país sul-americano. Sem esquecer o lado inaceitável de qualquer guerra, neste caso com quase mil mortos na soma das baixas sentidas por argentinos e ingleses.
No final, os vencedores, ao contrário dos vencidos, saem sempre unidos pois a História é escrita pelos que ganham e nunca (ou raramente) pelos que perdem, mesmo que as vitórias sejam alcançadas com a ajuda desinteressada de uma mão de Deus como aquela que terá encaminhado a cabeça de Maradona para um cabeceamento que fez explodir de alegria a Argentina, no dia 22 de junho de 1986, na Estádio Azteca na cidade do México.
Lembrei-me destas histórias quando, na semana passada, cruzei-me, no Porto, com muitos colegas de empresas de mediação imobiliária presentes num Seminário sobre Branqueamento de Capitais que a APEMIP organizou, tendo em conta a obrigatoriedade de formação específica nesta área para dirigentes e funcionários com responsabilidades nestas tarefas obrigatórias de vigilância sobre a cor e a proveniência do dinheiro. Na verdade, muitos transportavam e faziam transparecer muitas preocupações e angústias que nada ajudam a superar este momento.
Sinal destes tempos que importa ultrapassar é o facto de nem as anedotas que se contam e que já contemplam essa figura da Troika parecerem estar a surtir o efeito desejado de uma boa gargalhada. Nem uma piada – de um certo mau gosto – que eu ouvi no referido seminário do Porto, a dizer que isto está tão mau tão mau que nem interessa ao branqueamento de capitais. Temos mesmo de contrariar este nacional pessimismo que nos amarfanha, reeditando festivais como os do chocolate, mas, principalmente, exigindo a quem de direito opções concretas que reacendam a nossa esperança.
Luís Lima
Presidente da APEMIP
luis.lima@apemip.pt
Publicado no dia 30 de março de 2012 no Sol