O vazio que se abre quando as instituições de crédito fecham a torneira, e restringem, significativamente, o acesso ao dinheiro, nomeadamente no chamado crédito para aquisição de habitação, gera potenciais perigos para uma sociedade como a nossa, um dos quais – talvez dos menos evidentes – é o do aparecimento de poderes económicos paralelos, muitas vezes ilegítimos e até ilegais.

Em Itália, uma associação de pequenos comerciantes e empresas familiares sediada em zonas deprimidas, já alertou para o reaparecimento desses poderes económicos paralelos que solucionam, a um preço inaceitável mas irrecusável dadas as circunstâncias, problemas de liquidez de pequenas instituições e até de pessoas singulares.

O “preço inaceitável mas irrecusável” pode passar por uma forçada queda do valor dos activos imobiliários que acabará por beneficiar quem, organizadamente ou não, possua quantias avultadas de dinheiro e se substitua às normais instituições de crédito, muitas vezes com a dupla vantagem de impor as condições do empréstimo, e de proceder a uma conveniente “lavagem” de dinheiro.

Esta realidade – felizmente – não estará generalizada no nosso mercado e na nossa sociedade, mas num Mundo cada vez mais globalizado nada nos garante que esta situação não venha a alterar-se negativamente, forçando até a inversão do comportamento em contra-ciclo (para nós benéfico) do imobiliário português que tem vindo a valorizar-se ao contrário do que acontece na Europa.

Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP

Publicado dia 17 de Fevereiro de 2010 no Diário Económico

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