Há uns anos, recém-chegado de Madrid, onde tinha testemunhado com os meus próprios olhos os efeitos devastadores de uma verdadeira bolha imobiliária, como nunca, em nenhum momento, aconteceu em Portugal, dava conta num dos textos de reflexão sobre o sector que há muito venho tornando públicos dessa revelação ocorrida numa anémica edição daquele que já tinha sido o maior salão imobiliário do Mundo, o Salão Imobiliário de Madrid (SIMA).

Nesse ano, o SIMA espelhava a preocupante imagem que se instala em qualquer mercado onde a falta de confiança impoe uma desvalorização forçada e artificial dos bens imóveis, muito mais acentuado do que a que poderia aceitar-se em resultado da procura do equilíbrio alterado por anterior especulação igualmente artificial. Como então escrevi, de forma aliás muito suave, a oferta imobiliária que se apresentava nesse salão fazia-o com uma imagem de marketing própria das épocas de saldos de sapatos e de roupa fora de estação.

Na realidade, alguns stands, incluindo alguns de instituições financeiras que ali também se instalaram como se fossem empresas de mediação, ostentavam painéis publicitários de oferta de imóveis a mostrar, graficamente, uma sucessão de descontos cuja leitura é a que associamos às euforias dos saldos – já não é 10%, já não é 20%, já não é 30%, nem 40%, agora o desconto é de 50%. Nunca visto – lembrava eu, nunca visto num salão imobiliário de referência.

O imobiliário português, que nunca esteve em saldo de fim de estação, nem para Troika ver, ja era, como continua a ser cada vez mais uma boa oportunidade de negocio e um imobiliário de qualidade cujo mercado já erradicou, e há muito tempo, alguma especulação que possa ter existido no passado mas nunca se aproximou da que gerou enormes bolhas em Espanha, como na Irlanda ou nos Estados Unidos da América.

É por isso um pouco estranho – e até chocante – que ainda apareçam placas, anunciadoras de que o imóvel onde estão afixadas está à venda, que ostentam a informação adicional de “novo preço”, a sugerir que o primeiro seria elevado e o novo, subentendidamente mais baixo, estará a caminhar para os valores com que todos sonhamos quando sonhamos com as pechinchas dos saldos.

Longe de mim a ousadia de questionar a liberdade para adoptar uma estratégia comercial que qualquer empresa, deste sector como de outro sector qualquer, tem e deverá sempre ter. Mas uma coisa é questionar essa liberdade outra é considerar que certas opções podem ser, e têm sido, tiros no pé na imagem do mercado, nomeadamente do nosso mercado imobiliário, onde os preços novos devem ser mais altos do que os antigos e não o contrário, para estarem em consonância com o próprio mercado.

Na verdade, mais do que nunca, eu, que também devo contemplar os interesses da procura, seja da procura mais simples seja a dos investidores que crescentemente apostam no nosso imobiliário, sinto que devo dizer que está na hora de concretizar os interesses que moram na procura, antes que cheguem os novos preços, inevitável e justamente mais altos do que os antigos.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 30 de abril de 2014 no Público

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