Uma conhecida cadeia de supermercados, cuja publicidade a jurar amor a Portugal, fica o ano inteiro no ouvido como uma canção de acordos simples e repetitivos, aparece, num dos muitos rankings do nosso descontentamento, em quinto lugar, entre duas marcas de automóveis, uma especializada em carros alemães e outra em franceses.
Trata-se do ranking dos maiores importadores sediados em Portugal, posição bem pouco gloriosa, talvez mesmo bem pouco patriótica, se tivermos em conta que a palavra de ordem mais politicamente correcta é a que defende o esforço nas exportações, condenando o contrário, especialmente de produtos que se produzam e comercializem em Portugal.
A incómoda posição ocupada neste ranking foi justificada por uma fonte oficial do grupo económico que detém a cadeia de supermercados, citada na informação onde esta situação é reportada, pelo facto do grupo ter “desintermediado mais de 80% dos seus processos de compras”, passando a adquirir muitos bens na origem.
Ao que parece e ao que se deduz, antes, quando adquiriam os mesmos produtos a empresas importadoras sediadas em Portugal, tais compras, mesmo provenientes do estrangeiro, seriam consideradas compras nacionais, o que não deixa de ser curioso e até susceptível de ser considerado uma estranha mudança de origem.
A leitura critica desta realidade aponta para uma importação em elevada escala de produtos que se apresentem com preços competitivos, independentemente de Portugal produzir e comercializar produtos idênticos, mesmo que a preços menos vantajosos dos praticados em países que podem incorporar na produção significativas economias de escala.
Nem sempre o que parece mais barato é o mais adequado por não ser sempre mais vantajoso para quem adquire. Se a poupança imediata implicar a desactivação da produção nacional, os consumidores devem adicionar ao preço do produto os custos indexados ou a indexar ao sector nacional que sofreu com a importação cega.
Claro que, isto são informações que passam ao largo de alguma publicidade. Nós, por cá, não produzimos IPADs, nem carros, nem aviões, mas produzimos carne e podemos pescar, plantar e colher batatas, mugir vacas, vindimar boas uvas, esmagar azeitonas, eu sei lá quanto mais.
Luís Carvalho Lima
Presidente da APEMIP
Publicado dia 1 de Abril de 2011 no Diário de Notícias