Dizia-se, no tempo hoje classificado como antigamente, expressão que refere quase invariavelmente os regimes anteriores, que Portugal tinha sempre resultados elevados e dignos do pódio na modalidade olímpica de “presos e altares”, numa corruptela da expressão “pesos e halteres” que sintetiza a prática desportiva do halterofilismo.

Na verdade, antigamente, como hoje, a valia desportiva de Portugal nesta disciplina (que compete nas modalidades de arranque e arremesso) não era suficiente para grandes medalhas olímpicas, realidade que justificava aquela “piada” política a realçar que, em contrapartida, tínhamos muitos presos neste país sempre muito católico e como tal de muitos altares.

Estar no pódio, pela negativa ou pela positiva, é sempre uma visibilidade que tem a vantagem de nos alertar para a necessidade de combatermos essa realidade, se for negativa, ou combatermos a tentação de estacionar à sombra de uma glória alcançada, no caso de um feito positivo. Estar no pódio é não ser ignorado em qualquer circunstância.

Tudo isto vem a propósito da notícia de que o desemprego em Portugal, de acordo com um relatório do Eurostat, diminuiu 0,2 pontos percentuais no mês Julho face a Junho, passando para 16,5%,  Terá sido a terceira descida mensal consecutiva, segundo os dados mais recentes , numa quebra acompanhada pela quebra da taxa de desemprego jovem a descer para 37,4%.

Com estes valores, em consonância com o recente período em que o PIB português interrompeu o ciclo recessivo de mil dias,  o desemprego em Portugal deixa de ocupar a terceira posição na Europa para baixar a um menos visível quinto lugar, atrás da Grécia, da Espanha, da Croácia e do Chipre, embora continue acima da taxa média de desemprego na zona euro, que é de 12,1%. 

Estas descidas, fruto das revisões estatísticas do Eurostat, o gabinete de estatísticas da União Europeia, também decorrem de ajustes nas próprias fórmulas de apuramento destes valores, o que mais justifica uma enorme prudência na leitura desta realidade, sem prejuízo de se considerar positivo enquanto tendência de descida que se deseja manter.

Antigamente, muitos portugueses jovens, entre os mais insubmissos e críticos, que são também aqueles que potencialmente mais podem contribuir para fazer avançar os universos em que se empenhem, antigamente, muita população jovem portuguesa fugia de Portugal para o exílio, fugindo das prisões e também, nos anos 60, da guerra. Esta desertificação tem hoje paralelo no exílio de muitos jovens licenciados portugueses que procuram trabalho no estrangeiro.

Ao sairmos do pódio do desemprego europeu, situação que pode não ser irreversível, não podemos nem devemos descansar quanto a esta realidade. Mesmo em quinto lugar, o nosso desemprego continua a ser elevadíssimo e continua a provocar uma sangria exagerada dos nossos melhores valores jovens, valores que formamos com imenso sacrifício e que, impotentemente, deixamos partir.

Há realidades que não podem reduzir-se a uma piada como à dos “presos e altares” nem à ilusão de missão cumprida que a invisibilidade do problema pode gerar.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com 

Publicado no dia 09 de Setembro de 2013 no Jornal i

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