O risco de desertificação de algumas periferias de grandes cidades, num fenómeno agravado pelo facto de poder degenerar em favelização, é real e tem de ser prevenido rapidamente, sob pena de tais periferias se transformarem em zonas suburbanas pobres e desoladas, de imóveis, alguns por estrear, que envelhecem à espera de um potencial proprietário ou de um potencial inquilino.

Muitos destes conjuntos habitacionais, vocacionados para a classe média de menores recursos, foram construídos à luz das soluções de crescimento que dominaram o tempo dos juros bonificados, e apresentam-se com equipamentos e materiais menos modernos, registando, por consequência, alguma dificuldade em competir com a oferta imobiliária mais recente.

Estas periferias carecem, em alguns casos, de melhores e mais humanizadas envolvências urbanísticas, prometidas mas nem sempre concretizadas, e procuram, com alguma urgência, uma segunda oportunidade que passa, e muito, por novas políticas de acesso ao crédito para a habitação, o verdadeiro busílis do sector e das soluções a encontrar para que a procura, que existe, possa satisfazer-se nestas ofertas.

Num tempo de retracção e prudência da banca, que agora, em sede de crédito para a habitação, raramente empresta a totalidade da verba necessária para a aquisição de um imóvel, neste tempo de limitações de riscos, ao Estado parece não restar outra alternativa que não seja a de encontrar soluções que garantam empréstimos a 100%, mesmo que tal implique o aval do próprio Estado para a percentagem que os bancos deixam de fora.

O preço da implosão social em zonas periféricas suburbanas que ameaçam, também pela desertificação, transformar-se em não-lugares marginais será, seguramente, muito maior e mais penoso de suportar.

Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP

Publicado dia 09 de Novembro de 2009 no Diário Económico

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