Quando aquele que viria a ser D. João I de Portugal, então ainda Mestre de Avis, chegou a pensar, em plena crise de 1383/1385, retirar-se para Inglaterra, alguém com quem se aconselhou disse-lhe para ficar e para enfrentar a crise pois, nas sábias palavras desse conselheiro, “bom Londres é Portugal”.

Hoje, mais de seiscentos anos passados, de novo em crise, Portugal terá, como alguns dizem, outra matriz, menos autónoma e mais ligada ao espaço comum que tenta afirmar-se sob a bandeira da União Europeia, mas esta identidade própria do ser português mantém-se e justifica que queiramos continuar a dizer primeiro Portugal.

Desde logo – começa agora a saber-se – porque na hora da nossa entrada para o clube da nova moeda única, num contributo para o alargamento desse espaço, foi prometido, e por escrito, que os juros a pagar pelo financiamento que eventualmente o país necessitasse (na impossibilidade de poder desvalorizar a moeda) seriam os mesmos da Alemanha e dos outros países do Euro, coisa que não se verificou.

Bem pelo contrário. Dizem que estamos neste barco e que devemos assumir uma mentalidade adequada ao facto de sermos Europa, mas se precisamos de dinheiro temos de comprar a taxas de juro elevadíssimas varias vezes superiores às taxas de juro que outros países deste mesmo barco conseguem quando também precisam de financiamento.

Na comparação que somos sempre tentados a fazer entre uma União Europeia em construção e, por exemplo, os consolidados Estados Unidos da América (EUA), ao mesmo tempo parceiros e concorrentes, ignoramos que o apoio dos estados mais favorecidos aos estados menos favorecidos é nos EUA quinze vezes maior do que na UE. Tudo isto devia ser equacionado quando discutimos a crise, mas é muitas vezes ignorado.

Acresce – é bom não esquecer – que ao contrário do que acontece nos EUA onde toda a população fala a mesma língua, a língua inglesa, com maior ou menor rigor linguístico ou mesmo com algum sotaque mais estranho, nós por cá, na União Europeia, falamos uma série de línguas, nem todas irmãs ou primas irmãs. Neste aspeto estamos mais perto de Brasília do que de Berlim, mais perto de Luanda do que de Londres, mais perto de Maputo do que de Madrid.

Continua a ganhar assim algum, muito, sentido a defesa da ideia de primeiro Portugal. Ideia que nos aquece o coração e a esperança mas que não é fácil de construir com base num alargado denominador comum, desde logo pelo simples facto de haver mais do que um Portugal, ou seja, pelo facto de Portugal não ser o mesmo país para todos quantos nele vivem.

Saber negociar internamente a unidade que procuramos é que é a grande tarefa do momento. Grande e difícil tarefa. Tanto ou mais importante como adquirir uma mentalidade europeia sem a garantia de que essa mentalidade exista desta nossa periferia para o centro e do centro para esta e outras periferias, é a sabedoria em saber definir objetivos que nos mobilizem a todos ou a quase a todos.

Esta é a condição a partir da qual se justifica que possamos assumir como uma das nossas prioridades a ideia, justa no atual contexto europeu, de colocar Portugal em primeiro lugar.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 19 de Julho de 2013 no Sol

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