Um analista político irlandês, que assina opiniões num jornal que ostenta no título a palavra “independente”, transformou uma das suas recentes crónicas numa imaginária carta de amor (ou ciúme, não se sabe), que a própria Irlanda poderia escrever a Portugal, a propósito da crise que afecta os países da Zona Euro.

Esta declaração, que começa com um “Querido Portugal, daqui quem escreve é a Irlanda”, pretende ser uma espécie de aviso ao que poderá acontecer aos portugueses se o nosso futuro próximo vier a ser decalcado no passado recente da Irlanda que, diz o articulista, também tentou resistir a transformar-se num Protectorado de certas instituições financeiras.

Para o analista irlandês, os sinais que aquelas agências especializadas em classificar a credibilidade dos Estados e das respectivas instituições mais significativas têm lançado sobre Portugal, são muito semelhantes aos lançados, há meio ano, sobre a Irlanda .

O analista, sob o pseudónimo de Irlanda, lembra que Dublin também ensaiou uma mudança de Governo, para evitar o “resgate” (que diz ser muito mais uma condenação do que uma ajuda), mas acaba por admitir que tal estratégia foi apenas um compasso de espera, tolerado durante muito pouco tempo pela União Europeia.

O pior desta carta de amor é o testemunho irlandês que nos diz que o chamado “resgate” internacional não é, como se pode pensar, uma ajuda dos “irmãos” europeus mas uma operação que trará problemas para as nossas gerações futuras. Aquela obsessão por Portugal, perdão, contra Portugal, das agências de notação compreende-se melhor.

Protectorado, não obrigado.

Luís Carvalho Lima
Presidente da APEMIP

Publicado dia 9 de Abril de 2011 no Expresso

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