Nesta ditosa Pátria Minha Amada, quantos estarão dispostos a defender a honra os gregos quando estes sofrem ameaças humilhantes como as que admitem a possibilidade deles poderem vir a ser expulsos do euro ? Vaclav Havel, escritor e dissidente na Checoslováquia comunista, último presidente deste país e primeiro da República Checa disse que a Europa deve ser a Pátria de todas as Pátrias, tentando a síntese entre uma concepção federalista europeia e concepção contrária das Pátrias.

Como muito boa e conhecedora gente reconhece, o nosso bem-estar de europeus assenta neste projecto da União Europeia que contempla a livre circulação de pessoas, bens, dinheiro e serviços dentro deste nosso espaço numa integração crescente que abarca questões tão essenciais como as da energia e do ambiente, sem esquecer a criação da moeda única ainda não comum a todos os estados membros da União.

Mas as vantagens da União não podem ser reconhecidas exclusivamente nas horas felizes e boas. Quando as coisas correm bem somos todos europeus, mas quando corre mal, os europeus que gastaram mais do que deviam começam a ser vistos como menos europeus num súbito surto de nacionalismos que encerra, em si, toda a fraqueza da própria Europa e não apenas dos países europeus mais afectados pela crise da dívida soberana.

Esta União Europeia não é só uma aproximação entre Pátrias que visa a manutenção de uma paz duradoura na Europa. Nem a Paz é apenas a ausência de Guerra. Esta Paz que perseguimos implica que tenhamos, em toda a Europa, seja na Grécia, seja em Portugal, seja na Irlanda, seja na Alemanha, de crescer, mesmo em momentos de aperto que possam exigir um endividamento europeu menos esperado.

Toda a gente sabe que, citando um exemplo insuspeito, alguns Estados dos Estados Unidos da América apresentam défices nas contas públicas e dívidas soberanas tais que na Europa fariam cair vários governos e mobilizariam exércitos de troikas para impor regras rígidas e austeridades exemplares. A diferença é que, por lá, são muito mais Estados unidos, apesar de terem vivido, entre 1861 e 1865, uma terrível guerra civil (a da Secessão) que causou quase um milhão de mortos.

Bem que poderíamos aprender com esta lição, neste tempo de sacrifício, sob a ameaça de recessão nesta nossa ditosa Pátria minha amada. Para salvar o que tem de ser salvo e minimamente assegurado – garantir, apesar das dificuldades identificadas e a identificar, um crédito mínimo, sem o qual a economia não funciona nem pode haver crescimento. Para garantir uma Europa tal como, muito civilizadamente, fomos idealizando, isto é, uma Pátria de bem-estar para todos os europeus. É por isso que todos os nossos olhares devem centrar-se no nosso sistema circulatório, aquele que alimenta o coração, o sistema financeiro.

Luís Lima

Presidente da APEMIP

 

Luis.lima@apemip.pt

 

Publicado no dia 21 de Outubro de 2011 no Sol

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