O sintoma da existência de uma situação anómala na nossa Economia que se revelava pelo aumento preocupante do número de dações de imóveis entregues por particulares por incumprimento de obrigações assumidas em sede de crédito à habitação, está finalmente a baixar a olhos vistos o que significa que o “doente” começa a ter esperanças de melhorar e ficar bom.

Qual febre elevada, a chegar quase ao limite do suportável, o número de dações de imóveis chegou a ser muito preocupante mas em 2013 registou uma quebra de 54% relativamente aos valores de 2012 sinal que confirma uma convalescença lenta e a tendência para voltar à normalidade, isto é, aos números residuais que sempre se verificam neste campo.

Para esta inversão de tendências no sentido do regresso à normalidade do mercado imobiliário muito contribuiu a inteligência da banca que soube ver a tempo que era preferível, pela renegociação das dívidas, evitar ao máximo a ruptura com os clientes mais fragilizados, quer particulares quer empresariais, do que acumular ativos potencialmente desestabilizadores do mercado.

É que a tentação de recolocar no mercado a preços de saldo estes ativos imobiliários inesperadamente herdados foi, no início, muito grande, o que agravou a situação geral da nossa Economia pela desvalorização forçada do nosso património construído. Felizmente inverteu-se esta tendência e ter-se-á evitado um colapso de consequências imprevisíveis.

Só com um mercado imobiliário saudável e equilibrado, como o nosso sempre teve condições de ser por ter conseguido evitar uma bolha imobiliária como, por exemplo, a que rebentou em Espanha, é possível fazer com que esta área de negócios faça parte da solução para a nossa crise económica e financeira e não seja mais um problema.

O imobiliário português, pela qualidade da construção, pela relação preço / qualidade e pelos segmentos que ainda registam muito espaço para crescer (lembro o turismo residencial, não exclusivamente no patamar dos resorts mas também pela via da Reabilitação Urbana e do Arrendamento Urbano das nossas cidades) é uma potencial fonte de captação de investimento.

Um investimento externo direto, muito potenciado se puder beneficiar de condições atrativas no plano fiscal, mas também um investimento interno, pela via das poupanças que ainda resistem, se igualmente for incentivado com políticas fiscais favoráveis ao invés do que atinge o mercado imobiliário português exageradamente fustigado pela gula dos impostos.

Na verdade não basta que a “febre” das dações de imóveis esteja a descer. O optimismo e a esperança que se abrem com estes sinais precisam de outros apoios para se transformarem na realidade de um mercado imobiliário saudável que faça parte da solução e não mais um fonte de preocupação e de desespero para muita gente.

É preciso puxar pelo optimismo, pelo optimismo, necessariamente moderado, que marca este início de 2014 também neste sector do imobiliário. Isto exige esforços concertados de muitas vontades, incluindo as do sector financeiro que tem vindo a dar sinais claros nesse sentido, mas principalmente dos poderes públicos e da máquina do Estado, ainda indisponível para olhar um pouco mais longe na hora da tentação do esticar da corda fiscal.

Luís Lima

Presidente da CIMLOP

Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa

presidente@cimlop.com

 

Publicado no dia 24 de janeiro de 2014 no Sol

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