Nos dias que correm por cá, em Portugal, onde a televisão ainda é omnipresente em muitos lares portugueses até às horas das refeições, todas as séries CSI, de Nova Iorque a Miami, passando por Las Vegas, mais a “Mentes Criminosas”, a “Investigação Criminal” e outras, todas elas com dezenas de mortos no momento da sopa, do prato principal e da sobremesa, são, apesar da temática, muito mais recomendáveis do que os nossos telejornais.

A gente sabe, naquele faz de conta das ficções televisivas, que o Horácio acabará por descobrir e prender os criminosos, que o Mentalista não lhe fica atrás em perspicácia policial e que até o Castle, que é um escritor de romances policiais que faz biscates na investigação policial, resolve, em 55 minutos, casos intrincadíssimos do mundo do crime que atravessa as séries de culto dos mais modernos canais televisivos do cabo.

Angustiados ficam os telespectadores quando vêem e ouvem, à hora sagrada do jantar, que é a hora dos principais jornais televisivos, falar nas quase 6000 casas já penhoradas e vendidas este ano em Portugal, nos cem mil salários penhorados, no número, quase seis vezes maior, de portugueses que não têm salário por estarem no desemprego ou no crescente aumento de falências de restaurantes e de outras empresas e no crescente aumento de famílias que pedem apoio solidário para comer.

E no aumento do IMI (que só pode ser pago em prestações se o contribuinte que está com dificuldades para pagar mas não quer faltar ao pagamento apresentar uma garantia bancária), e no desespero dos jovens que procuram, em vão, o primeiro emprego e no desespero, que não é menor, dos funcionários que vão perder o subsídio de férias e o subsídio de Natal com os quais reequilibravam algumas dívidas. Já nem as excepções a estas austeridades nos divertem.

Quando, já há algum tempo, arriscava a incompreensão de alguns dos meus amigos quando dizia, como muitas vezes escrevi, que o desemprego iria subir para valores nunca vistos num cenário preocupante, muitos dos que agora se mostram surpreendidos com os actuais 14,8 % de desempregados julgavam-me, a mim que sou um optimista por natureza, um implacável pessimista. Nem quero pensar no que dirão quando o desemprego chegar à casa dos vinte, o que acontecerá se este rumo não se alterar. 

Na verdade, mesmo testemunhando, como estamos todos a testemunhar, este bater no fundo, eu continuo a tentar ser optimista e a reclamar a urgência de alguns sinais concretos de esperança para todos nós, o que, na prática, significa para a nossa Economia, uma Economia que não pode ser estrangulada e que tem de voltar, rapidamente, a crescer também pelo lado da procura interna. Somos nós quem vive aqui. 

Luís Carvalho Lima

Presidente da APEMIP

luislima@apemip.pt

Publicado no dia 14 de março de 2012 no Público

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