Quatro quintos da população portuguesa com filhos sentiu e sente os efeitos da crise. É muita gente. Estes números estão conferidos pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e resultam da projeção dos resultados de um inquérito efectuado a 1001 famílias.

A realidade gerada na crise está a ser responsável pela existência de conflitos familiares desencadeados pelas dificuldades financeiras em 35% dos casais com filhos. Os desequilíbrios nos orçamentos familiares desequilibram os afetos em mais de um terço das famílias com filhos.

Cerca de 80% das famílias inquiridas (os tais quatro quintos ou oito em dez) reconhecem que a crise os afetou significativamente. Dois terços deixaram de sair e de gastar dinheiro em divertimentos e um quarto procuram mais vezes o médico por problemas imputáveis à instabilidade que se vive.

Nesta cadeia de relacionamentos tipo causa / efeito, metade dos inquiridos já teve de recorrer às poupanças para acudir a despesas do dia a dia e mais de um quarto foram obrigados a endividar-se, junto da banca, junto da família ou até junta da banca e da família.

Leio ainda que metade estão a gastar menos em roupa, em comer fora, em gadgets  e que dez por cento cortaram mesmo na saúde e na educação. Bem como nos gastos em serviços de apoio a idosos ou a pessoas com deficiência que estejam a cargo das famílias.

Muitos passaram a trabalhar mais horas mas a ganhar menos do que ganhavam, o que explica que a esmagadora maioria das famílias que pagam prestações por empréstimo, nomeadamente pelo crédito à habitação, dizem que esta taxa de esforço é um fardo pesado ou muito pesado.

Com o espectro do desemprego a pairar, direta ou indiretamente, sobre muitas famílias, esta fotografia de família não encaixa bem com a política de promoção da natalidade, considerada essencial para a manutenção de um Estado de Direito com preocupações sociais.

Para muita gente, mesmo considerando apenas aqueles que vão tendo emprego, as perspectivas que o inquérito da Universidade de Coimbra revelam apontam para um aumento significativo do número de pessoas que se resignam a sobreviver, mal, num ciclo casa / emprego, emprego / casa nada apelativo.

Quatro quintos das famílias com filhos tendem a viver assim, num fatalismo que importa alterar.

Luís Lima
Presidente da CIMLOP
Confederação da Construção e do Imobiliário de Língua Oficial Portuguesa
presidente@cimlop.com

Publicado no dia 03 de Novembro de 2014 no Diário Económico

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