Que animal poderia uma Europa, economicamente agressiva, escolher para simbolizar a força do próprio Continente como potencial locomotiva do Mundo, nesta competição, oculta e não assumida, que existe entre cidades, entre países, entre continentes?
O tigre está fora de hipótese – já foi utilizado pelos asiáticos e não é animal que exista por estas paragens, salvo em jardins zoológicos. Lince? Também não, ainda há pouco salvamos o da Malcata. Eu escolheria o lobo, mesmo sendo pouco original.
Mas, mesmo que começássemos a chamar a uma série de países deste velho continente os “lobos da Europa”, dificilmente conseguiríamos encontrar valores, em números de crescimento económico, que pudessem justificar um cognome tão agressivo.
E, já estou só a falar de crescimento, esquecendo os índices de desenvolvimento humano, cuja tabela das Nações Unidas cruza informações sobre a riqueza, sobre a educação e até sobre a esperança média de vida das populações.
Alguns hipotéticos lobos da Europa e outros, como os norte americanos, possuem elevados índices de desenvolvimento humano, mas, não registam os crescimentos económico expressivos que marcaram e marcam os tigres asiáticos e os elefantes de outras paragens.
Quando olhamos para os países BRIC, países de economias emergentes que adoptaram esta sigla formada pelas primeiras letras de quatro dessas economias – Brasil, Rússia, Índia e China – somos tentados a ter inveja do crescimento económico que eles mostram.
O elevado crescimento económico verificado nos BRIC, pode ajudar algumas economias destes lobos da Europa, mas, na verdade, jamais poderá servir-nos de modelo, pois é um crescimento que ainda não contempla exigências que as sociedades desenvolvidas contemplam.
Nessa corrida pela captação de capitais estrangeiros, aliciados por elevadas taças de rendabilidade, o trunfo dos “lobos” da Europa não pode ser o da mão-de-obra barata e cordata, como ainda é em algumas paragens do Mundo. Na verdade, não podemos ser lobos nem vestir-lhes a pele.
Isso seria desastroso para a própria Europa e para o próprio sector da construção e do imobiliário europeus. A transição do ciclo da quantidade para o da qualidade também passa por aqui, e, também faz a diferença entre crescimento e desenvolvimento.
Luís Carvalho Lima
Presidente da Direcção Nacional da APEMIP
Publicado dia 16 de Junho de 2010 no Público Imobiliário