Podia ser um dos anexins escolhidos para a série que o Expresso tem vindo a editar, com belíssimos textos e não menos belas ilustrações, mas, é apenas uma nota, para mim oportuna, sobre uma situação que é um sinal dos tempos que vivemos e do carácter de certas pessoas que fazem do chico-espertismo a maneira de estar na vida.

Há dias, num círculo de homens de negócios, quando alguém chegou num daqueles carrões que dantes eram paralelepípedos e brancos, e agora são mais arredondados e de todas as cores, há dias, alguém vendo chegar os reluzentes bólido e dono, clamou, alto e bom som, que o carro era dele.

O carro é seu?, perguntei. “Claro, ele não paga as comissões devidas à minha empresa de mediação… Um dia destes vai poupar mais do que os 3% da comissão, vai deixar de vender imóveis pois ninguém vai mostrar o produto que ele constrói e eu vou buscar-lhe o carro”.

Na verdade, embora não sendo muitos, há uns quantos espertalhões que recorrem à mediação para colocar no mercado os respectivos produtos imobiliários, recusando pagar o serviço mesmo depois da transacção imobiliária ter sido efectuada, e do comprador, com dinheiro próprio ou com crédito bancário para o efeito, ter pago o imóvel.

Com este comportamento, mostram-se incapazes de honrar os compromissos assumidos, o que é sempre feio testemunhar e, o que é pior, desestabilizam o mercado, causando efeitos muito graves, decorrentes, desde logo, da legítima recusa em aproximar a procura da oferta de quem conspurca  assim o mercado.

Publicado dia 11 de Setembro de 2010 no Expresso

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