Seria bom que o Banco Central Europeu (BCE) fosse um banco comercial dirigido por um conselho de administração  que integrasse o actual conselho executivo do próprio BCE, onde tem assento José Manuel González-Páramo, banqueiro público que, há dias,  apelou a que os bancos não sejam demasiado prudentes nos critérios definidos para a concessão de empréstimos.

González-Páramo, em entrevista que uma agência europeia de notícias está a fazer correr mundo, lembrou algo muito esquecido no mundo dos negócios em geral e no mundo financeiro em particular, mais precisamente o facto das empresas, incluindo as instituições de crédito terem também uma iniludível “função social”.

Há matérias em que o excesso é tão grave no caso da prudência como no caso da imprudência. Salvaguardando a situação particular e excepcional da pandemia da gripe A (H1N1), que exige cuidados higiénicos acrescidos, nomeadamente na constante lavagem e desinfecção das mãos, é sabido que o excesso em matéria de limpeza do corpo pode ser tão grave como o contrário.

Infelizmente, por estes dias de regresso à vida activa mais intensa, a Imprensa tem vindo a referir que, no mercado português, há uma tendência para que os bancos agravem os “spreads” aplicados aos empréstimos à habitação, o que seguramente, pouco ou nada contribui para reanimar o mercado de crédito e, em consequência, recuperar o próprio prestígio que a banca deve merecer.

A banca – registe-se – como um dos sistemas vitais das economias de mercado, ainda vive momentos de alguma incerteza, nomeadamente quanto à capacidade de resistir a novas perturbações negativas na actividade económica. Estas palavras não são minhas, são do dirigente do BCE José Manuel González-Páramo.

Um Banco Central Europeu, a instância da autoridade monetária europeia, que tem sentido a necessidade de dizer aos Governos dos estados membros e à banca destes mesmos estados que está na hora das instituições financeiras fazerem o trabalho que delas se espera, isto é, emprestar, invertendo a perigosa tendência da desaceleração da concessão de crédito.

Invertendo essa tendência e aquele velho ditado que diz, ou dizia, que quem dava aos pobres emprestava a Deus. Agora, de facto, o ditado mais certo é o que diz que quem empresta aos pobres dá a Deus. Um belo aforismo para qualquer banco comercial que queira salvar-se e ser positiva e socialmente interveniente no seu tempo. 

Publicado dia 2 de Setembro de 2009 no Público Imobiliário

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