Um amigo meu, jornalista, costuma contar uma história engraçadíssima centrada em torno de uma caixa de multibanco que o Dr. Jorge Sampaio inaugurou em 1999, quando visitou a açoriana ilha do Corvo, no decorrer de uma das visitas pelo país enquanto Presidente da República.

Uma determinada instituição bancária, cuja identificação não vem para o caso, aproveitou a visita do presidente Jorge Sampaio aos Açores para inaugurar o primeiro e provavelmente ainda único terminal de multibanco da Ilha do Corvo, máquina que os menos de 500 habitantes da ilha dispensariam bem.

Quem não dispensou experimentar ATM tão oportunamente inaugurado foram os jornalistas e outros profissionais da comitiva de Jorge Sampaio, movimento que esgotou o dinheiro da máquina, gerando a indicação hilariante de que os clientes deveriam dirigir-se ao terminal mais próximo, situado noutra ilha.

Tanto ou mais insólito do que esta situação é a notícia de que um banco admite  conceder descontos significativos aos clientes que liquidarem o respectivo crédito à habitação, coisa impensável até há bem pouco quando qualquer cliente que quisesse resgatar o empréstimo para a casa era desaconselhado a fazê-lo em nome das vantagens que a dívida poderia gerar em sede de IRS.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades e, os clientes do crédito à habitação, outrora disputados como bons clientes que sempre foram, na fidelidade e no pagamento a tempo e horas das respectivas obrigações, são agora indesejáveis e como tal, potencialmente descartáveis.

Como se o negócio de emprestar dinheiro a quem o pode pedir e se dispõe a pagar o que deve, com garantias e juros, não continue a ser um dos grandes e bons negócios das instituições bancárias. Mesmo tendo em conta, como parece, que a lógica do sistema financeiro privilegia os interesses das próprias instituições financeiras.

Um erro a meu ver perigoso, pois as instituições financeiras prosperarão melhor se estiverem ao serviço do desenvolvimento e, consequentemente, dos clientes que apostam nesse desenvolvimento. Nunca, num cenário em que parece ser clara a intenção de eliminar muitos e bons clientes.

Luís Lima
Presidente da APEMIP
luis.lima@apemip.pt

Publicado no dia 9 de Agosto de 2011 no Jornal de Notícias

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